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Movimento Antivacina ameaça imunização no mundo


GETTYIMAGES/2021


Por Henrique Rezende e Rafaela Ferreira - graduandos em Relações Internacionais pela PUC-SP e membros do Programa de Educação Tutorial (PET-RI)



Em 2019, na elaboração de seu plano estratégico, a Organização Mundial da Saúde listou 10 ameaças à saúde global a serem observadas. Entre a poluição do ar, mudança climática e doenças como HIV, dengue e Ebola, estava o que se chamou de “vaccine hesitancy” (eufemismo para antivacina).

Agora, em 2021, as mais de 4 milhões de pessoas vítimas da COVID-19 não são impedimento para que, em meio a desinformação, “fake news” e teorias da conspiração impulsionadas pela internet e líderes políticos, o movimento antivacina ganhe novos adeptos.

Bolsonaro foi apontado pelo historiador francês Laurent-Henri Vignaud como o único presidente da história a desencorajar a vacina, responsável por falas como “se virar jacaré, é problema seu”. Já nos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump, mais de 800 mil dólares foram destinados a organizações antivacinas. Pode-se dizer, com certeza, que ações vindas de chefes de Estados, tais como Bolsonaro e Trump, acabam influenciando milhões de pessoas e contribuindo para uma parcela dos mais de 4 milhões de mortos e de outros tantos milhões de infectados.

Antes da COVID-19, discursos de recusa à vacina já eram empregados por celebridades e “ativistas” da causa na internet. Contudo, em tempos de pandemia, o discurso ganhou força. Reportagem da BBC mostram que, mesmo sendo contra as diretrizes do Youtube, existem diversos vídeos na plataforma que reproduzem discursos antivacina. Um deles, coo mostra a reportagem, com mais de 800 mil visualizações, atribui a Rockefeller e Bill Gates a criação do Zika vírus, com o intuito de diminuir a população mundial. Característica da rede social, os vídeos reproduzem outros com mesmo carácter automaticamente, emergindo o telespectador no sensacionalismo.


Mas afinal, como os países estão sendo afetados?


Enfrentando a quarta onda da COVID, a França encontra dificuldade na vacinação frente ao movimento antivacina. O país aprovou o uso do “passaporte sanitário”, um comprovante de vacinação exigido para frequentar locais públicos, como forma de incentivar a vacinação. Apesar de ter sido realmente eficaz- a porcentagem de franceses inteiramente imunizados já passa de 50%, a ação acarretou em uma série de manifestações violentas e falsificações de atestados.

Nos Estados Unidos, a situação é semelhante. Embora o número de vacinados já seja de 165 milhões de pessoas (cerca de 50% da população), o número de óbitos e infectados voltou a aumentar. Segundo o porta-voz estadunidense de saúde pública, o médico Vivek Muthy, 99% das mortes atualmente são de pessoas que não foram imunizadas.

Por outro lado, na América Latina a maior parte da população deseja se vacinar. Pesquisa feita pelo Centro de Dados Sociais da Universidade de Maryland mostra que a disposição para se imunizar cresceu, colocando países como Brasil, México e Venezuela passando dos 80%. No Brasil, esse aumento pode ser entendido como uma superação de inquietações, produzidas pela persistente difusão de desinformação envolvendo a vacina, a vista da eficácia e diminuição de casos e óbitos em 77% nos últimos três meses.





Para combater o movimento antivacina e convencer aqueles indecisos, aumentando a aderência à campanha de vacinação, diversos países estão tomando medidas únicas de incentivo. Para aqueles que forem vacinar, estes incentivos vão desde sorteios de cinco carros (Rússia) e um apartamento no valor de 1.4 milhões de dólares (Hong Kong), até cerveja grátis (Israel) e refeições (Inglaterra). Porém, alguns países também resolveram incentivar através de punições, para quem se recusar ou evitar tomar a vacina, podendo ser uma multa de 350 dólares (Indonésia), chegando até a encarceramento (Filipinas).

Além dos incentivos convencionais, como os sorteios e pagamento, o governo americano tem buscado uma estratégia diferente para ajudar com os esforços de promover a vacinação. Esta tem contado com diversos influenciadores jovens, que apelam ao público abaixo dos 30 anos. O caso que chamou mais atenção da mídia foi quando a atriz e cantora Olívia Rodrigo, que acumula fama mundial e milhões de seguidores nas redes sociais, foi à Casa Branca conversar com o presidente Joe Biden e o Dr. Anthony Fauci, no dia 14 de julho deste ano. Ademais, em uma breve fala na Sala de Imprensa, Olivia se direcionou à população americana, reforçando a importância e para “terem conversas com amigos e família, encorajando todas as comunidades a serem vacinadas”.


Brasil

Nas últimas décadas o Brasil se tornou um dos países que mais se empenham com a vacinação, sendo parte, inclusive, da constituição a realização de campanhas de imunização em massa. Dessa forma, a disseminação da informação sobre a importância e benefícios da vacina sempre foram falados pelo governo, dando bases que facilitam a campanha atual de vacinação contra a COVID-19. Porém, historicamente a desconfiança sobre vacinas e o surgimento de movimentos antivacinas acabam sendo fortalecidos por momentos de instabilidade política e econômica. Além disso, tivemos o surgimento das redes sociais, junto com o desenvolvimento dela em anos recentes, que facilitam a propagação de desinformação e “fake news”, que influenciam grande parcela da população.

Hoje o Brasil se encontra em meio à polarização política, grave crise econômica e rodeado por “fake news” disseminadas, principalmente, por grupos do aplicativo Whatsapp. Assim, apesar da força do movimento antivacina não ser fervoroso, vem aumentando desde o início da pandemia. Um dos principais fatores que levaram a isso, como mencionado anteriormente, foi o presidente Bolsonaro desencorajar o uso da vacina, dizendo que ele mesmo não iria tomar, e ainda desacreditar a Coronavac, por ser uma vacina de origem chinesa. Para complementar a situação, muitos dos apoiadores do presidente acabam disseminando informações falsas sobre as vacinas, dizendo que elas vão implantar chips, que não funcionam ou até que fazem mal. Também falam muito sobre a própria doença e a pandemia, ignorando o impacto e as mortes que foram causadas, como se fosse apenas “gripezinha”.

Isso, claro, faz parte de todo um lobby de um setor da indústria que lucra com a venda de medicamentos que prometem prevenir a COVID, ou até tratar o quadro da doença. Então por um lado desacreditam as vacinas para as pessoas ficarem doentes e do outro incentivam a comprarem mais seus medicamentos “preventivos”, que na realidade não tem eficácia nenhuma. O lucro da indústria farmacêutica é baseado nas pessoas que serem afetadas por doenças e a COVID não é diferente. Inclusive se mostrou uma oportunidade única no Brasil, onde parte da população segue o presidente cegamente, e este segue cegamente a vontade da indústria.


Conclusão

O movimento antivacina vem crescendo no decorrer da pandemia da COVID-19, ganhando dimensões que nunca houve antes. Consequência ainda pior é não apenas em relação ao coronavírus, mas também prejudicando a confiabilidade das pessoas em todo e qualquer tipo de vacina, podendo trazer doenças, antes controladas, de volta para uma lista de preocupação. O descrédito e a recusa sobre elas causa problemas não apenas para quem recusa, mas para todos aqueles que entrarem em contato com essa pessoa. Não tomar a vacina, por si só, pode ser considerado um ato contra a vida, uma vez que alguém pode acabar na UTI, ou até mesmo morrendo, por causa das mentiras espalhadas por “fake news” e a desinformação dos grupos de Whatsapp. É preciso combater essas práticas, através de disseminar o conhecimento científico, de forma acessível e irrefutável, mostrar para as pessoas que o negacionismo não é bom para elas e nem para quem elas amam. Só com muito trabalho e esforço de todos que se pode mudar esse cenário, que pode vir a ser muito pior, em uma futura pandemia.





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