O correspondente do jornal O Estado de S. Paulo Jamil Chade escreve sobre o aumento do fluxo de refugiados que ingressam na Europa via península Balcânica oriundos principalmente da Síria e do Iraque. Chade alerta para os números de pessoas que podem migrar para Europa em 2016, atingindo até o dobro do que foi registrado no ano passado, com base nas estatísticas apresentadas para os primeiros meses deste ano.
A situação nos campos de refugiados deve se agravar com o aumento do fluxo. Somente neste ano foram registradas 130 mil chegadas. Na Grécia, os acampamentos não suportam mais o contingente de refugiados que necessitam de abrigo. Na última semana, cerca de 1,5 mil passaram a noite ao ar livre em pleno inverno europeu. Para a ONU, existe uma “crise humana iminente” se forem confirmadas tais previsões para 2016. Para que isto não ocorra, Chade alerta para a necessidade de realocação de forma urgente dos refugiados entre os 28 países do bloco.
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JAMIL CHADE – CORRESPONDENTE / GENEBRA
01 Março 2016 | 11h 57 – Atualizado: 01 Março 2016 | 12h 00
Em nove semanas, 130 mil pessoas entraram no continente europeu, segundo dados divulgados pela ONU
GENEBRA – O fluxo de refugiados na Europa pode dobrar em 2016, em comparação a 2015, e a ONU alertou nesta terça-feira, 1, para uma crise humana nos portos gregos, a porta de entrada de milhares de pessoas no continente. Dados apresentados em Genebra apontam que, em apenas nove semanas, o número de refugiados e imigrantes cruzando as fronteiras europeias superou todo o fluxo de 2014, com 130 mil novas chegadas.
No ano passado, 1 milhão de pessoas desembarcaram nas costas europeias vindos principalmente na Síria e Iraque. Se o atual ritmo for mantido, a marca de 1 milhão pode ser atingida já em agosto. Para a ONU, existe uma “crise humana iminente” na Grécia diante das barreiras que países vizinhos estão estabelecendo para impedir que os estrangeiros que chegam nas ilhas gregas consigam continuar caminho em direção a outros países europeus.
Na segunda-feira, por exemplo, 24 mil pessoas na Grécia precisam de algum tipo de acomodação. 8,5 mil deles estavam em Eidomeni, na fronteira com o território macedônio. 1,5 mil passaram a noite ao ar livre. “As condições estão levando à falta de alimentos, água e saneamento”, disse a ONU. “A tensão aumenta, alimentando a violência”, alertou.
A ONU apelou ontem para que a Europa volte a debater a situação, depois que diversos países passaram a ignorar as regras e construir novas cercas. “A Grécia não pode lidar com a crise sozinha”, indicou.
Na avaliação da entidade, a Europa precisa recuperar de forma “urgente” o projeto de realocar os refugiados entre os 28 países do bloco. Das 66 mil pessoas hoje vivendo na Grécia, apenas 1,5 mil foram indicadas para realocação em outros destino. Desse total, apenas 325 foram de fato transportadas para seus novos países.
“Pedimos que a Grécia e outros países atuem com rapidez para evitar um desastre humanitário”, indicou.
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A crise humanitária que se apresenta nos Bálcãs não é um caso isolado. O fluxo migratório no continente europeu tem como principais portas de entrada as penínsulas que se projetam para fora do continente criando pontes, a oeste a península Ibérica e ao centro, a Itália. As barreiras físicas armadas para impedir a entrada de migrantes – muros e cercas de arame farpado – refletem a política de securitização adotada pelos países peninsulares, que são entrada e rota de acesso para alcançar os países da Europa Central, principalmente a Alemanha. Por outro lado, há o fator social humanitário de busca pela sobrevivência que move o que Sandro Mezzadra denomina de autonomia das migrações. Atualmente, o fluxo de refugiados tem sido visto mais como um problema de segurança nacional dos Estados do que uma questão humanitária, cuja solução dependeria de um esforço de cooperação internacional.
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