top of page
Writer's pictureLarissa Pinz

Eleições no Peru: da fragmentação à polarização no segundo turno

Por Larissa Pinz e Denise Tavares

Graduandas em Relações Internacionais pela PUC-SP e integrantes do PET-RI


No último domingo (11 de abril de 2021), o Peru realizou o primeiro turno das suas eleições presidenciais com dezoito candidatos na disputa. Nos dois dias anteriores à eleição “mais fragmentada da história”, seis candidatos estavam em empate técnico, com as mesmas possibilidades de irem para o segundo turno em junho e nenhum deles ultrapassava 13% das intenções de votos nas pesquisas.


Com 95% das urnas contabilizadas na quarta-feira (14), o resultado foi surpreendente: o professor e sindicalista Pedro Castillo (Partido Nacional Peru Libre) aparece como primeiro colocado com 19% dos votos. Castillo deve enfrentar no segundo turno a direitista Keiko Fujimori (Fuerza Popular) que ocupa o segundo lugar, com 13% dos votos (ver gráfico abaixo).



Em meio à fragmentação e à imprevisibilidade, há a certeza de que o conservadorismo em relação a temas de direitos humanos vencerá as eleições, independente do candidato escolhido pela população. Apesar de os dois candidatos confirmados no segundo turno ocuparem lugares opostos no espectro ideológico político, ambos são contra a abordagem de gênero nas escolas, a legalização do casamento homoafetivo, do aborto e da eutanásia, os candidatos não se diferem quanto às pautas identitárias.


As diferenças entre os candidatos, que variam de centésimos a cinco pontos percentuais, e o alto percentual de abstenções (29%) e votos brancos e nulos (18%), além de evidenciar que nenhum candidato conseguiu despertar o favoritismo dos peruanos, expõem um eleitorado desiludido com os poderes constituídos.



A eleição também é marcada pela ausência de partidos políticos tradicionais como o APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana), o PPK (Peruanos Para Mudança) e o UPP (União pelo Peru), destacando o protagonismo dos outsiders. A maioria dos candidatos obteve registro eleitoral recentemente, usam novas siglas e incorporam líderes apoiados por grupos dos mais variados interesses, sem base social ou histórico de militância.


O resultado do primeiro turno das eleições peruanas pode ser compreendido como um sinal do que é a história econômica do país. Contada no geral como um sucesso, o modelo econômico neoliberal que o Peru adotou na década de 80 vem agora sendo colocado em dúvida, em grande medida, pela crise econômica e sanitária que o país enfrenta. Houve uma queda de 11% no PIB, aumento da desigualdade e uma média de 8.548 novas infecções pelo coronavírus a cada dia. A ajuda financeira que o governo se propôs a fornecer no enfrentamento da pandemia não chegou à população mais vulnerável que trabalha na informalidade.


Uma das consequências mais expressivas do modelo de desenvolvimento empreendido pelo Peru é a concentração de capital e serviços em Lima. As populações que moram nas regiões periféricas de Lima são, por vezes, obrigadas a se deslocarem para a capital para receber atendimento médico, ou sofrem com a falta de infraestrutura nas suas cidades para enfrentar a crise de COVID-19.


Assim, pode-se dizer que, se o primeiro turno foi caracterizado pela fragmentação e variedade de candidatos, o segundo tende à polarização ideológica, e geográfica, entre Lima e a costa norte versus o Peru rural e andino. Pedro Castillo integra um partido político que se identifica como marxista-leninista, e propõe uma mudança radical do status quo político e econômico do Peru. Já a candidata direitista Keiko Fujimori é filha do ditador Alberto Fujimori, defensora do livre mercado e representante dos interesses da classe alta e ultraconservadora.


(Foto: Reprodução/Disponível em https://amazonas1.com.br/eleicoes-no-peru)


Castillo representa os interesses dos professores e da população rural do Peru. Dentro do programa apresentado pelo professor está a formação de uma Assembleia Constituinte que modifique a Constituição de 1993 para levar adiante a “economia popular com mercados”, que tem inspiração no governo de Evo Morales, na Bolívia. Defendendo um sistema de saúde público, gratuito e universal, pretende gastar 10% do PIB em saúde e educação, quando todo o orçamento atual do governo é de apenas 14% do PIB.


Seus obstáculos para ganhar a eleição no segundo turno podem estar relacionados ao forte estigma contra a esquerda, ainda muito presente no Peru. Políticos e a imprensa conservadora tentam vincular ao candidato o grupo de guerrilha maoísta do Peru, Sendero Luminoso, desde a greve dos professores de 2017 que Castillo liderou as mobilizações.


(Foto: Reprodução/Disponível em: https://vermelho.org.br/)


Concorrendo pela terceira vez ao cargo, Keiko Fujimori representa o fujimorismo. Alguns eleitores lembram de seu pai como um líder que melhorou o padrão de vida no país e supervisionou importantes reformas pró-negócios. Em suas propostas estão as políticas econômicas em defesa do livre mercado e a política de mão de ferro, ou “mano dura”. Quando questionada durante a campanha se a população deveria esperar um governo autoritário, Keiko afirmou em seu Twitter que o Peru precisa de uma “demodura”, que ela definiu, não como uma ditadura, mas como uma “democracia dura”.


O nome de sua família está fortemente relacionado ao autoritarismo e a corrupção. No último domingo (11) o Ministério Público acusou a candidata de obstrução de justiça, corrupção e lavagem de dinheiro por receber doações milionárias da empreiteira brasileira Odebrecht para suas campanhas presidenciais de 2011 e 2016, pedindo 30 anos de prisão.


Seguindo com uma apuração mais lenta, a projeção para a eleição parlamentar é de que o partido Peru Libre, do candidato Pedro Castillo, tenha a maior bancada, entre 32 a 35 deputados, seguido pelo Fuerza Popular, da candidata Fujimori, com 24. O parlamento no Peru é unicameral e tem 130 membros. As ideias conservadoras vem adquirindo força no parlamento, o Peru terá, pela primeira vez, uma bancada da ultradireita católica no Congresso com 13 assentos.


Independente do resultado do dia 06 de junho, o Peru terá uma presidência conservadora, sem avanço nas pautas identitárias, o ponto de diferenciação entre os dois candidatos será mais expressiva em matéria de políticas econômicas e sociais. Castillo, ao defender um Estado socialista, planeja a estatização dos setores estratégicos da economia peruana. Já Fujimori seguirá com as políticas econômicas favoráveis ​​ao livre mercado, prometendo uma reforma tributária e da previdência para permitir a administração privada dos fundos.


71 views0 comments

Commenti


bottom of page