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COVID-19 e Israel: As Duas Crises em Gaza

Por Camila Galvão e Hasan Boscariol - Graduandos em Relações Internacionais pela PUC-SP e membros do PET-RI

Foto por Pedro Riera Emleh/ Federação Árabe Palestina do Brasil

Nas últimas semanas, acompanhamos uma escalada na violência de Israel sobre os territórios Palestinos que, invariavelmente, afetaram de forma substancial a crise da COVID-19 na região. Os mais recentes acontecimentos podem ter sua origem traçada ao atual embate no bairro de Sheikh Jarrah, localizado na parte Oriental de Jerusalém, pela expulsão de famílias palestinas de suas casas pela Corte Israelense.

Segundo os órgãos jurídicos de Tel-Aviv, o bairro de Sheikh Jarrah, mais especificamente na área de Karm al-Jaouni, seria de posse de colonos judeus que teriam documentos de ocupação do local prévios à instalação de refugiados palestinos na região durante o mandato jordaniano de controle de Jerusalém, lembrando que, após 1967, Israel mantém o domínio ilegal, segundo as Nações Unidas, da parte oriental da cidade.


No dia 10 de maio, a mesquita de Al-Aqsa, 3ª mais importante para a religião muçulmana, foi invadida por forças policiais israelenses causando um confronto direto com a população palestina muçulmana que se encontrava no local para as rezas do mês do Ramadã, resultando em mais de 300 feridos do lado palestino. Após o episódio de Al-Aqsa, as ações de repressão israelenses voltaram-se para a faixa de Gaza.

Segundo dados da emissora Al Jazeera, que teve seu prédio bombardeado por Israel, já se somam mais de 200 mortes em Gaza após 10 dias de ataques diários. Além do elevado número de fatalidades, que tem quase ¼ composto somente pelo assassinato de menores de 18 anos, Gaza observa uma alta taxa de feridos e desabrigados que totalizam mais de 70.000 palestinos. Assim como nos conflitos em 2008, 2010 e 2014 os mísseis israelenses não se restringiram aos chamados alvos militares, espaços que segundo Tel-Aviv seriam controlados pelo Hamas, grupo político palestino, mas atingiram sistemas essencias de sobrevivência para Gaza, como por exemplo centros de ajuda humanitária e edifícios da infraestrutura pública local, como escolas e hospitais.


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Como era de se esperar, esses ataques agravam a crise da Covid-19 na região ao atingir o sistema médico e os profissionais da saúde, dificultando o acesso de equipamentos e de treinamento adequado aos hospitais. Além disso, os ataques aéreos impedem o acesso ao principal hospital de Gaza, "que fornece quase 70% dos serviços médicos públicos em Gaza e quase 90% dos serviços médicos de emergência”.


Em comunicado oficial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que os testes e a vacinação contra a Covid foram seriamente afetados e solicitou que os profissionais de saúde e as instalações fossem protegidos depois de dezenas de incidentes, ressaltando os riscos à saúde para o mundo como um todo. Além da doença, os ataques sobrecarregam os hospitais com o cuidado dos lesionados pelas explosões e estilhaços.


Desse modo, a campanha de vacinação foi suspensa em razão da falta de suprimentos e do fechamento de fronteiras, dificultando a gestão da crise da Covid-19 na região. No que concerne às redes de saúde local, os ataques aéreos atingiram o único laboratório em Gaza que processa resultados de testes, tornando-o inoperante. No mais, danificaram o laboratório e os escritórios administrativos do Ministério da Saúde, administrado pelo Hamas.


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Por fim, a agressão constante torna impossível o distanciamento social e gestos de higiene ao bombardear os prédios e as moradias, fazendo com que os palestinos se aglomerem em escolas administradas pelas Nações Unidas em Gaza, que podem ser áreas de alta transmissão do vírus. Essa situação demarca mais um capítulo no extenso processo de apartheid nos territórios palestinos.




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