No dia 8 de Julho de 2014 começava a operação “Limite Protetor”, lançada por Israel contra a Faixa de Gaza, com a justificativa de restaurar a calma ao país e acabar com o lançamento de foguetes do território palestino. Desde então, segundo dados da OCHA (sigla em inglês para o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU), divulgados no dia 20 de ago
sto, o conflito já deixou 2.063 pessoas mortas.
Foram 64 baixas israelenses, 2 civis e 62 militares. Do lado palestino foram 1,999 baixas, 1,434 civis, incluindo 467 crianças. A discrepante diferença de baixas entre os lados pode até ser justificada pela assimetria militar e tecnológica das partes envolvias no conflito, mas a verdade é que Israel responde com violência desproporcional aos ataques de Gaza, atacando muitas vezes áreas densamente povoadas e, inclusive, um oficial do exército já afirmou que casas civis usadas para lançamentos de foguetes serão atacadas.
No dia 26/08 foi anunciado um acordo de cessar fogo mediado pelo Egito. Em um acordo de cessar fogo ambos os lados concordam em suspender as hostilidades por um período de tempo determinado ou não. O acordo não significa um armísticio, que é um comprometimento formal de ambos os lados para encerrar definitivamamente a guerra.
O acordo não aponta de maneira alguma para uma resolução definitiva do conflito, visto que questões cruciais, tais quais a abertura de um aeroporto e de um porto em Gaza, ainda ficaram indefinidas. No lado israelense Benjamim Netanyahu voltou a ser criticado pela ala mais extremista do seu governo por não ser duro o bastante. O vazamento da informação de que as negociações eram feitas sem a participação dos demais ministros causou mal estar no gabinete israelense.
Em entrevista à revista alemã Das Spiegel, o ex-chefe do Shim Bet, serviço de inteligência interna de Israel, afirmou que não existe evidência do envolvimento da organização islâmica Hamas no sequestro e assassinato de 3 jovens judeus israelenses, fato que teria desencadeado a atual ofensiva militar. Ele afirma também que pelas gravações da ligação feita por 1 dos jovens à polícia israelense ficou constatada a morte ainda no primeiro dia de desaparecimento.
O governo israelense omitiu a informação e começou o que chamou de “busca” pelos jovens. Casas palestinas foram, além de invadidas, demolidas e centenas de pessoas foram presas. Só no 18o dia de “buscas” é que os oficiais israelenses admitiram que os jovens estavam mortos e que os corpos foram encontrados e somente recentemente é que o Hamas assumiu o envolvimento de seus militantes no ato. O sequestro impulsionou uma onda racista e nacionalista no país.
Em Jerusalém grupos de gangues cantavam morte aos árabes nas ruas e, em um ato de vingança, um jovem palestino de 16 anos foi queimado vivo. Na cidade de Tel-Aviv membros de torcidas organizadas e da organização Jewish Defence League atacavam manifestações contra a guerra que foram organizadas e convocadas por setores da sociedade israelense, aí incluídos números significativos de cidadãos e cidadãs judeus de Israel que tem posições políticas contrárias à atual maioria governamental.
A região vive uma escalada de violência desde então, com milhares de foguetes sendo lançados de Gaza para Israel, que ataca o território com aviões, drones, tanques e artilharianaval. Uma incursão terrestre também foi lançada e o objetivo declarado é acabar com uma rede de tuneis construída pelo Hamas que permite a infiltração em território Israelense e o contrabando de bens, pessoas e equipamento militar.
O governo de Israel é uma coalizão composta por 4 partidos: Likud, partido de direita tradicional, do primeiro ministro Benjamim Netanyahu; Jewish Home, partido ligado aos assentamentos; Yesh Atid, partido de centro que atrai a simpatia da classe média e Hatnua, partido de centro esquerda que detém somente 2 ministérios do gabinete israelense. O restante dos ministérios fica divido entre Likud (8), Jewish Home (7) e Yesh Atid (5).
Por trás de toda esta história – do sequestro dos jovens e da declaração que Israel tem o direito de se defender existe o plano de impedir, no futuro, a criação de um Estado Palestino. Representada pelo partido Likud e pelo Jewish Home, a extrema-direita israelense faz forte campanha a favor da incursão à Gaza. Não há vontade política de se negociar um acordo com os Palestinos. A desculpa de não negociar com o Hamas, organização considerada terrorista, não deve mais ser aceita.
O Hamas foi formado após a primeira Intifada em 1987. A organização islâmica inclui uma entidade filantrópica, um partido político e um braço armado, as Brigadas Al- Qassam. Adota a violência como forma de resistência e muitas vezes seus ataques são direcionados a alvos não militares e a população civil. A entidade é considerada terrorista por muitos países ocidentais, como por exemplo Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Japão e, é claro, Israel. Há países que somente consideram o braço armado do Hamas como terrorista, a exemplo de Austrália e Reino Unido. Já Brasil, Rússia e Noruega, entre outros, não consideram o Hamas como uma organização terrorista.
A relutância israelense em negociar com o grupo e a insistência na ocupação acaba empurrando os palestinos para os braços da organização, que tem como um de seus objetivos a destruição do Estado de Israel. Mesmo com a retirada dos assentamentos em 2005, Gaza continua sendo uma região ocupada. O acesso ao território só pode ser feito através de postos de controles israelenses ou egípcios, o espaço aéreo é controlado por Israel e seu mar territorial também. Esses fatores constituem um regime de ocupação. A Cisjordânia, além de ser ocupada, está sendo gradualmente anexada por Israel através de seus assentamentos ilegais, que constituem um dos maiores entraves para a paz.
O Jewish Land, representado por um dos seus ministros no governo, Lieberman, faz pressão para que o exército “vá até o fim e erradique o Hamas”. Na Cisjordania novos assentamentos vão sendo construídos, como informa a ONG israelense Paz Agora!, desde que a coalizão liderada por Benjaim Netanyahu assumiu o governo em 2009, 6867 novos assentamentos começaram a ser construídos. Não é possível ignorar o fato de que esses assentamentos foram aprovados por governos anteriores, mas não se pode eximir a responsabilidade do atual.
A maioria dos assentamentos está sendo contruída em território onde seria o futuro Estado palestino. Ao contrario dos palestinos, os colonos tem o direito de portar armas, com a única condição para tal é um curso em academias militares anti-terroristas, tais quais a Academia IMI. A militarização dos assentamentos, aliada ao apoio das Forças de Defesa de Israel, consiste em grave ameaça ao povo palestino e à paz.
O discurso de que Israel tem o direito de se defender e de que a ocupação e os assentamentos trazem segurança para o Estado Judeu é falso. Israel vem perdendo a guerra de propaganda, manifestações contra Israel aconteceram no mundo todo. Organizações como a Humans Right Watch e Anistia Internacional, além de diversos órgãos da ONU condenaram a incursão em Gaza. O Brasil protestou e convocou sem embaixador em Tel Aviv para consultas.
O momento para se buscar uma saída pacífica é agora, pois quanto mais o tempo passa mais Israel perde legitimidade e credibilidade. Em toda parte campanhas contra a ocupação israelense são lançadas, boicotes são planejados contra o país. Mesmo nos EUA, tradicional aliado, cresce um lobby para cessar com a ajuda militar americana a Israel. Enquanto isso cresce o número de baixas na campanha, vitimando principalmente apopulação civil e a infraestrutura de Gaza está seriamente comprometida. Já na Cisjordânia mais anexações de terra são anunciados por Israel. E a história se repete…
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