Por Ana Luísa Calvo Tibério e Hadassa Silva - graduandas em Relações Internacionais pela PUC-SP e bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET-RI)
Milhares tomam as ruas pelo Fora Bolsonaro e protestos suscitam debate sobre a (im)parcialidade da mídia nacional e internacional.
Manifestantes tomam a Avenida Paulista no dia 29 de maio pelo Fora Bolsonaro. Fonte: https://reporterbrasil.org.br/2021/06/cobertura-do-29m-ao-omitir-imprensa-brasileira-se-revela/
No dia 29 de maio, milhares de pessoas foram às ruas usando máscaras PFF2 e tomando medidas de segurança em pelo menos 85 cidades por todo Brasil contra o governo de Jair Bolsonaro e sua política genocida diante da pandemia de Covid-19. Além de pedidos de impeachment, os manifestantes pediam rapidez na vacinação e volta do auxílio emergencial de R$600. Outras pautas como a luta antirracista, o fim da violência policial, o ataque às privatizações e a defesa da educação pública também foram abarcadas.
Apesar de mais de 7 quarteirões da Avenida Paulista ocupados pelos manifestantes e as avenidas de outras capitais tomadas, os principais jornais brasileiros dedicaram apenas pequenos espaços de suas capas com chamadas vagas, e por vezes sem imagens, das passeatas. Por outro lado, os grandes veículos internacionais deram bastante ênfase às manifestações e não pouparam críticas ao Presidente brasileiro.
Os casos do jornal O Globo, que dedicou ao tema apenas uma chamada de três linhas, e do Estadão, que deu uma chamada de seis linhas na parte inferior da capa e destacou a aglomeração mais do que os motivos que levaram os manifestantes às ruas, exemplificam a intencionalidade da mídia brasileira em ocultar o fato. Em contrapartida, os mesmos jornais dedicaram à campanha anti-petista e pelo Impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff 12 capas.
Fonte: https://reporterbrasil.org.br/2021/06/cobertura-do-29m-ao-omitir-imprensa-brasileira-se-revela/
No caso do jornalismo televisivo, o mesmo Jornal Nacional que dedicou 80% de um programa ao Triplex atribuído ao ex-presidente Lula (PT), deu menos de 4 minutos de seu penúltimo bloco aos protestos. Similarmente, a Rede Record deu ao tema 57 segundos de cobertura e sequer citou o nome do presidente Jair Bolsonaro.
Os canais de televisão fechada, como GloboNews e CNN Brasil, que realizaram coberturas ao vivo dos protestos pelo fim da violência policial contra a população preta estadunidense e pelo assassinato de George Floyd, mal noticiaram os protestos ou realizaram uma cobertura proporcional a dimensão dos atos, que tomaram o Brasil no dia 29 de Maio. Tais canais se comprometeram abertamente com a luta por igualdade racial no período dos protestos, mas sequer noticiaram os grupos do movimento negro que protestavam pela morte da população negra brasileira, que apesar de representar o mesmo número de internações que os brancos tem 38% mais chances de morrer.
A mídia internacional, por sua vez, deu grande destaque aos atos. Os britânicos The Guardian e BBC e o estadunidense The New York Times deram ênfase ao agravamento da pandemia, às mortes e à desaprovação do governo de Jair Bolsonaro e dimensionaram os protestos nacionalmente, com imagens e vídeos que mostravam o quão robustas foram as manifestações.
Já o jornal francês Le Monde Diplomatique teve como chamada a frase “Ele é mais perigoso que o vírus: no Brasil, novas manifestações contra Bolsonaro”. Na reportagem, apontam que os protestos eram pelo Fora Bolsonaro, “cuja popularidade está em acentuado declínio e de quem a maioria dos brasileiros (57%, segundo o instituto PoderData) agora quer a demissão”.
Ainda, a agência Reuters, responsável pela divulgação de conteúdo para jornais internacionais, divulgou a cobertura dos atos e destacou as grandes mobilizações em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Além de ressaltar o uso de máscara pelos manifestantes e a forte repulsa a Bolsonaro, a agência também destacou o uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo em Recife, tema por sua vez pouco abordado pelas mídias nacionais.
Nesse sentido, fica evidente a discrepância entre a cobertura nacional e internacional dos protestos. A grande mídia brasileira afasta-se das redes internacionais e parece mais uma vez assumir seu posto de deslegitimador e desarticulador dos movimentos sociais e clamores populares para assumir a omissão e a distorção em favor da burguesia, do empresariado e do agronegócio brasileiro. Os impactos desta omissão já são há muito tempo sentidos na democracia brasileira, no entanto questionamos: terão sucesso em minar os protestos contra Jair Bolsonaro? Por outro lado, a esquerda brasileira poderá contar com o apoio e a cobertura da mídia internacional para o próximo período?
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