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ARTIGO | O dilema chinês: referência em energia verde e o preço do desenvolvimento

Por Leonardo Farias, graduando em Relações Internacionais pela PUC-SP e bolsista pelo Programa de Educação Tutorial (PET-RI)



O problema climático global tem se intensificado ao longo das últimas décadas, marcando uma preocupante urgência em direção a soluções sustentáveis. O aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos e a degradação ambiental são evidências claras do impacto das atividades humanas no clima. Diante desse cenário, a transição energética surge como uma necessidade imperativa para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de gases de efeito estufa.


Nesse contexto, a China desempenha um papel crucial e paradoxal. Por um lado, a nação tem liderado esforços significativos na implementação de tecnologias de energia renovável, estabelecendo metas para a adoção de fontes limpas. Em 2020, a China anunciou planos de atingir neutralidade de carbono até 2060, um marco fundamental no compromisso global com a redução das emissões. (BBC, 2021)


No entanto, a China também enfrenta desafios consideráveis em relação à poluição, mantendo uma posição de liderança entre os maiores poluidores do mundo. Sua dependência contínua do carvão como fonte primária de energia contradiz os avanços em energias renováveis, resultando em um equilíbrio delicado entre as metas ambientais e as demandas de uma economia em crescimento.


A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) em 2023 destacaram a urgência de ações globais coordenadas para combater as mudanças climáticas. A pressão internacional sobre países como a China para acelerar a transição energética é evidente, enquanto paralelamente surgem oportunidades para cooperação e inovação no desenvolvimento de tecnologias verdes.


A transição energética chinesa tem sido um ponto de destaque nas discussões globais sobre sustentabilidade e mudanças climáticas. A China, como maior consumidor e produtor de energia do mundo, tem buscado intensamente reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e aumentar o uso de fontes renováveis. O país reduziu em 40% a quantidade de partículas nocivas no ar entre 2013 e 2020, segundo o relatório apresentado em junho pelo Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago (EPIC, na sigla em inglês), nos EUA, que realiza medições por satélite. Com a meta de neutralidade de carbono até 2060, o país tem investido maciçamente em tecnologias verdes e renováveis, destacando-se na implementação de energia solar, eólica e elétrica.


Entre 2016 e 2020, a China investiu mais de US$ 800 bilhões em energias renováveis. Ultrapassou os Estados Unidos que investiram U$540 bilhões afirma um relatório da WEF (World Economic Fórum). A China é um país com uma população numerosa e muitas empresas, por isso, a elevada demanda por energia fez com que o país buscasse variar suas fontes de energia e tender a não depender somente de fontes de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo.


A transição energética chinesa vem em crescente escala nos últimos anos, a energia verde ganhou uma grande espaço na lista de investimentos do país. Segundo a Agência Nacional de Energia, a capacidade instalada de energia renovável da China atingiu 172 milhões de quilowatts nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 93% ano a ano (ANE). Segundo a Xinhua, a agência estatal de notícias oficiais do governo, no final de setembro de 2023, a capacidade instalada total de energia renovável do país atingiu 1,38 bilhão de quilowatts, representando 49,6% da capacidade total de geração de energia instalada do país, superando a da energia a carvão. As metas chinesas em relação a produção de energia verde incluem ter cerca de 35% de sua matriz energética advindas de fontes renováveis, isso a coloca como uma das maiores produtoras de aparelhos fotovoltaicos no mundo (EL PAÍS).


Mas a China enfrenta um dilema complexo entre seu desenvolvimento econômico acelerado e os impactos ambientais decorrentes desse crescimento. Como a maior nação emissor de dióxido de carbono do mundo, sua parcela de poluição é significativa. Segundo dados do Relatório de Orçamento de Carbono Global apresentado na conferência do clima COP28, em Dubai, apontou que a China é responsável por um terço das emissões de gases em todo o planeta e enquanto grandes potências diminuíram suas emissões de gases em relação ao ano anterior, a China aumentou cerca de 4%. A rápida industrialização e a dependência contínua de combustíveis fósseis, especialmente o carvão, e a indústria têxtil têm contribuído para essa realidade.

Essa situação poluente se tornou intrínseca ao desenvolvimento econômico chinês. Por décadas, o país priorizou o crescimento industrial e a produção em massa, muitas vezes às custas do meio ambiente. O livro GreatPowers, Climate Change, and Global Environmental Responsibilities, em que 12 acadêmicos discutem sobre como as potências globais existentes e emergentesdefiniram suas responsabilidades em relação ao meio ambiente global. O capítulo 4 diz o seguinte:


"However, the long history of deep disagreement between the US and China in the climate negotiations is less about security (traditional or otherwise) and more about efforts to protect their economic competitiveness in an increasingly globalized capitalist economy. The brief period of cooperation between the US and China leading to the Paris endgame reveals the deep conservatism of GPM, in this case, in preserving rather than transforming the economic status quo."


A crescernte da economia Chinesa depende dessa alta produção, potências como os Estados Unidos sabem disso e veem na cobrança para a diminuição de carbono chinês não com um propósito moralista e emergencial de salvar o planeta, mas sim de frear a economia chinesa. A poluição das indústrias chinesas continua sendo um desafio crítico. Setores como a produção de aço, cimento e manufatura pesada são grandes emissores de poluentes.


Em suma, a questão climática atual exige um compromisso unificado para enfrentar os desafios ambientais, reconhecendo o papel fundamental da transição energética. A China, com sua influência significativa na economia global e na política climática, está numa encruzilhada crítica, onde suas ações podem moldar drasticamente o futuro ambiental do planeta.


A China está diante de um desafio crucial: equilibrar o crescimento econômico com a responsabilidade ambiental. Seu papel nas discussões climáticas globais é cada vez mais relevante, à medida que o país se compromete com metas mais ambiciosas. A transformação energética e a redução da poluição industrial são pilares centrais do planejamento do governo chinês para um futuro mais sustentável.


O desenvolvimento está intricadamente ligado a poluição, o projeto chinês de desenvolvimento data da metade do século passado. O desenvolvimento de uma nação tão grande quanto a China teria seu preço a pagar. Mas apesar de atualmente ocupar o posto de país mais poluente do mundo atualmente, a maior pegada ambiental não é da China, historicamente o Estados Unidos ainda ocupa essa posição. O futuro Chinês e do mundo dependem de decisões políticas para que ações a favor do meio ambiente e sustentabilidade possam ser tomadas. A China mostra empenho e melhora na mudança para novas fontes de energia, diplomaticamente, colabora com os acordos e metas traçadas, ainda é bem discreta em relação ao assunto e cobra de outros países para que que protagonizem essa transição de energia no mundo. Na COP28 que aconteceu em dezembro de 2023, o vice-ministro chinês do Meio Ambiente, Zhao Yingmin se pronunciou, "Os países desenvolvidos têm uma responsabilidade histórica inabalável pela mudança climática e, portanto, devem tomar a iniciativa de embarcar no caminho de 1,5ºC antes que o resto do mundo". O dilema Chinês entre ser uma potência em energia limpa mas ao mesmo tempo ser o país que mais polui o mundo na atualidade ainda permanece.  Não conseguimos ver nenhum movimento que indicasse uma mudança drástica de posicionamento, a transição energética está em um ritmo lento, pois, o desenvolvimento e enriquecimento da indústria nacional ainda é e será a prioridade Chinesa.

 

Referências bibliográficas:


Fostering Effective Energy Transition 2021 edition, WEF, 2021; pag. 27 Disponível em:https://www3.weforum.org/docs/WEF_Fostering_Effective_Energy_Transition_ 2021.pdf

BROWN, David; Mudanças climáticas: Por que a política da China para o clima afeta você também, BCC, 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58921090

Estados Unidos e China anunciam juntos que assinarão Acordo de Paris, PBMC. Disponível em: http://pbmc.coppe.ufrj.br/index.php/en/news/576-estados-unidos-e-china-anunciam-juntos-que-assinarao-acordo-de-paris

Aumento capacidade instalada de energia renovável da China, XINHUA, 2023. Disponível em:https://portuguese.news.cn/20231030/9b09e3a3ed244147ac0abb369dfacf51/c.html

China reduz seu consumo de carvão pelo terceiro ano consecutivo, EL PAÍS 2017, Disponível em:https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/04/internacional/1488631238_086175.html

FALKNER, Robert; BUZAN, Berry; Great Powers, Climate Change, and Global Environmental Responsibilities, pg 81.

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