Na noite de ontem, 11 de setembro, aconteceu o último evento da XII Semana de Relações Internacionais – Marcos das RI: Soberania e Justiça na configuração global contemporânea. O último evento foi a palestra sobre “Reflexos da crise global de 2008”, contando com a participação de Prof. Dr. Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária, Helio Beltrão – fundador e membro do conselho consultivo do Instituto Millenium e fundador-presidente do Instituto Mises Brasil, além do Prof. Dr. Carlos Eduardo Carvalho, que leciona economia na PUC-SP. Mediando o debate estava o professor Carlos Gustavo Teixeira, professora da área de relações internacionais na PUC-SP.
Por se tratar de um assunto muito polêmico, a palestra sobre a crise global foi marcada por exposições e opiniões distintas, que dialogavam pouco entre si. Paul Singer foi o primeiro a palestrar e atribuiu a crise econômica de 2008 à falta de regulamentação estatal do capital financeiro, alegando que a bolsa imobiliária norte-americana estourou devido à ação predatória de bancos de investimento que apostavam incessantemente na valorização dos imóveis. Ao contrário de Singer, Helio Beltrão defendeu que a depressão financeira só aconteceu devido às atitudes do Estado norte-americano, que teria injetado crédito nesse ramo até entre 2000 e 2007. Desse modo, se declarou conta a existência de um Banco Central e sua ação reguladora, alegando que estadismo e centralização econômica não são saudáveis ao capitalismo. Carlos Eduardo Carvalho, que foi o último a falar, defendeu que o capitalismo não possa existir sem um Estado que o faça ficar minimamente equilibrado. Além disso, criticou o liberalismo por este considerar o mercado um “ente superior”, e classificou isso de recuo conceitual.
O debate também trouxe opiniões opostas no que concerne a obra do economista britânico John Maynard Keynes. Paul Singer defendeu as políticas anticíclicas descritas pelo autor, pois , em tempos de crise, o Estado deve, segundo ele, investir na economia nacional para retomar o consumo. Enquanto isso, Hélio Beltrão disse que o keynesianismo era uma espécie de “robbin-hood ao contrário”, que tira dinheiro da população pobre e dá a grandes bancos e empresas. Carlos Eduardo Carvalho trouxe ao debate o fato de que Keynes defendia que Estado impulsionasse a economia em tempos de crise, mas não defendia que este segurasse as economias quando estão no auge. Além disso, defendeu que Keynes não seria a favor da ajuda aos bancos feita pelos EUA depois da crise, e que isso se deu, em grande parte, devido ao lobby bancário.
Apesar de terem ideias distintas, os participantes da mesa pareceram não fugir muito da oposição entre capitalismo estatal e capitalismo liberal, discordando, fundamentalmente, quanto ao nível necessário de participação do Estado na economia capitalista. Desse modo, vale o questionamento: estamos limitados a estes dois modelos de capitalismo ou deve-se investir no surgimento de algo novo, que absorva novos paradigmas e demandas e seja, de alguma forma, “pós-capitalista”?
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