O terceiro dia (10/09) da XII Semana de Relações Internacionais da PUC-SP: “Marcos das Relações Internacionais: Soberania e Justiça na Configuração Global Contemporânea” foi aberto com a palestra sobre os “100 anos da Primeira Guerra Mun
dial”
A mesa foi composta pelo Prof. Dr. Reginaldo Nasser do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e do Programa de Pós-graduação Santiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC) e pelo pesquisador Bruno Huberman também do Programa de Pós-graduação Santiago Dantas. Contando com a mediação do Prof. Dr. Lauro Ávila, do Departamento de História da PUC-SP.
O debate girou em torno de uma relação de causalidade entre conflitos atuais no Oriente Médio e a conjuntura geopolítica da região formada após a Primeira Guerra Mundial. Partindo desta abordagem, as guerras entre israelenses e árabes, por exemplo, remontam ao período imediatamente posterior ao final da Primeira Guerra com a criação dos mandatos e protetorados, como uma forma de substituição do termo colonialismo que estava associado à guerra e sob o pretexto da “tutoria” das regiões desintegradas do Império Turco Otomano.
Um destes foi Protetorado Britânico da Palestina que, segundo Huberman, marcou o início de uma tensão entre judeus, árabes palestinos e britânicos. A visão britânica da época, de acordo com o pesquisador, enquadrava-se nos moldes do Orientalismo, isto é, o preceito de atraso e desorganização endógenos aos Orientais que os tornariam incapazes de formar um Estado Moderno conforme o modelo europeu, e nessa perspectiva o colonizador judeu funcionava como um elemento da “Missão Civilizadora” europeia contra o atraso dos povos orientais, neste caso, os árabes.
Ainda sobre esta dimensão, segundo Nasser, esta visão de caos e incapacidade delineados no pós-guerra ainda permanece, e ganha concretude, no Sistema Internacional atual, sob a forma de intervenções ou subsídios financeiros das grandes potências ocidentais no Oriente Médio, ambos com função de promover o “State-building” e o “Peace-Building”, de modo geral, ainda tem o mesmo pretexto de tutoria e de difusão da ordem.
Desta forma, a conjuntura do Oriente Médio continua a ser tratada com um espectro de caos causado pela irracionalidade dos atores, e quebrar este paradigma de análise é, segundo Nasser, de extrema urgência para que se compreendam os conflitos da região fora da dicotomia Orientalismo-Ocidentalismo. Portanto, torna-se necessário desconstruir este legado da Primeira Guerra Mundial para, assim, ser possível analisar tanto as reivindicações palestinas quanto qualquer outra forma de revolução árabe dentro de uma perspectiva de movimentos sociais localizados histórica e geograficamente.
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