O término da Guerra Fria colocou fim a um sistema bipolar, que garantiu a hegemonia dos Estados Unidos e consequentemente gerou mudança no posicionamento dos Estados frente a esse novo contexto. Desde então, esse influência de forma extremamente incisiva qualquer medida tomada no sistema internacional. A forma com que o mundo está lidando com tamanho poder foi objeto de discussão de diversas palestras na última semana, quando o renomado professor de Relações Internacionais da Universidade de Harvard, Stephen Walt, esteve no Brasil. A Fundação iFHC e a Escola de Ciências Sociais/CPDOC da FGV promoveram no dia 13 de setembro uma discussão a partir do seguinte eixo central: “Taming the American Power: US Foreign Policy in a Multipolar World”, com S. Walt e também com a participação e comentários de Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da FAAP. Expondo um debate teórico de vertente realista, S. Walt colocou de forma clara e crítica como a potência mundial alcançou tal posição e, mediante a isso, questionamentos sobre o jogo de ação e reação do sistema internacional e os desafios que essa relação carrega. Uma relação que para ele se baseia em incertezas, pois não é possível saber qual será o próximo passo de um Estado com um acúmulo de soft e hard power tão extremo como o do Estados Unidos; chega a dizer que lidar com o EUA “is how to sleep with an elephant”, ou seja, toda e qualquer medida tomada pelo país tem um grande reflexo nos outros, qualquer minimo movimento ou respirada gera um desequilíbrio internacional. Ao longo do debate foi discutido pelo S. Walt a discrepante percepção que os Estados Unidos tem de si (“the greatest gift the world ever received”, ïndispensable nation”…) e como ele é visto por outras nações, que muitas vezes não compartilham dessa ideia. Raros são os norte-americanos que não acreditam na idéia de que os Estados Unidos leva em consideração o interesse dos outros Estados, e de acordo com o Walt esse não só aplica seu poder de forma nociva como muitas vezes é hipócrita por pregar algo que nao adota; novamente faz uma comparação como se os EUA estivessem com um grande cigarro na boca pedindo para todos na sala pararem de fumar. Porém a politica externa dos Estados Unidos vem em uma trajetória de sucessivos fracassos (Iraque, Afeganistão, abordados pelo professor como “no boots on the ground”) e essa suposta potência inabalável parece ter perdido sua plenitude. Será que todos os acontecimentos desse novo século, construíram um Estados Unidos com menos credibilidade, ou mesmo um declínio de sua legitimidade perante os Estados? Será que esse enfraquecimento ocasionaria uma real anarquia global? O que Walt deixou claro em sua exposição foi que ele não acredita que os Estados Unidos possam obrigar a todos a se submeterem aos seus interesses. E, no atual contexto, muito menos, uma vez que se o que está sendo discutido, se concretizar (como a ascendência da China como uma potência equiparável aos EUA), os países terão mais opções de alinhamento e o equilíbrio da balança de poder mudará. O professor se posicionou de forma bastante incisiva em relação aos acontecimentos atuais, colocando-se contra a intervenção dos EUA na Síria, mostrando que a época em que os Estados Unidos intervia usando justificativas falhas, no momento não ocorre mais, que a Rússia e a China estão preocupadas com o poder dos EUA e por isso não apoiam suas ações. O fato é que a credibilidade dos EUA está em jogo, eles precisam agir ou reagir mediante aos acontecimentos. Os seus próximos passos podem dizer muito sobre como vai caminhar o Sistema Internacional, o quão determinantes outros Estados podem se tornar e como isso poderá influir no excepicionalismo americano.
Por Carolina Teixeira
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