Frente à atual crise, qual será o futuro da União Européia?
Esse foi o tema debatido na palestra dessa ultima semana na PUC-SP. Ministrada por José Manuel Pureza, professor da Universidade de Coimbra, direções foram apontadas para melhor entender o momento.
Desconstruindo os discursos depreciativos que culpam a países basicamente do sul, como por exemplo, o de que esses não sabem governar a si mesmos devido a suas elites irresponsáveis e seus povos naufragados em vícios; Pureza expõe a necessidade de entender a complexidade da crise, que vem colocando em cheque a própria integração européia e o modelo de Estado democrático de bem estar social.
Pureza ressalta também a necessidade de compreender a crise não só em termos econômicos, mas também políticos; como um problema não simplesmente advindo de países periféricos, mas sim que perpassa a cada Estado e a união desses como um todo.
Para isso, é importante perceber que o contexto anterior à crise era marcado por Estados europeus que se caracterizam de forma comum por seus direitos e seguridade sociais. Agora, há uma profunda recessão, que tem como contrapartida, a implementação de um processo de asiatização, no que concerne fundamentalmente a precarização do trabalho e programas de ajustamento estrutural, já muito bem conhecido pela América Latina, sobretudo devido ao seu insucesso.
Essas “soluções” são impostas de cima pra baixo, diminuindo ainda mais o que já era deficitário na própria União Européia, o índice democrático. Fundos internacionais ditam medidas concretas e relegam as decisões nacionais a um segundo plano, o que acaba instigando a população a questionar que democracia é essa.
Além disso, a falta de controle por parte de cada Estado sobre suas políticas econômicas, por causa do próprio processo de integração, fragiliza ainda mais esses Estados, dando assim abertura para questionamentos também acerca da própria união, afinal a justificativa seria de que fora dela o país teria controle sobre suas políticas cambiais e emissão de moedas, facilitando a conquista da estabilização. Nesse momento, a União Européia se torna refém de si mesma.
Entretanto, há possibilidades sim de continuar com a integração e solucionar ou ao menos amenizar a crise. De um lado é necessário ir contra as imposições de medidas pelos fundos internacionais, essencialmente o FMI e ainda ir contra os discursos depreciativos, que simplificam e reduzem a crise reforçando o ideário de que a periferias são sempre as causadoras dos problemas. Já de outro lado, é imprescindível que se entenda o quanto a crise é complexa e profunda e que para traçar sua solução é indispensável o aumento do índice democrático dentro dos próprios países e fora, ou seja, no âmbito da própria integração, e também trilhar um caminho inverso ao de flexibilidade dos direitos e seguridade social, que, principalmente aplicado no contexto atual, é um total regresso.
Por Leda Vasconcellos
José Manuel Pureza é professor de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra e participa de atividades de ensino e pesquisa no Departamento de RI da PUC/SP pelo programa professor visitante/Fapesp
Para saber mais a respeito da visão do José Manuel Pureza, frente ao atual contexto europeu, confira a entrevista! (Por Ana Godoy e Leda Vasconcellos)
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