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Ucrânia: o desafio na reconstrução de um estado soberano diante da fragmentação de atores e seus int

Maidan, a Praça da Independência, em Kiev, epicentro do movimento que surgiu no fim de novembro de 2013 na Ucrânia em reação à atitude do presidente Viktor Yanukovich de não firmar o acordo de participação do país na União Europeia. negligência por parte do governo em relação às negociações sobre o acordo de livre-comércio com Bruxelas também contribuiu para o seu desgaste. O conflito, que ão deve ser personificado na figura do até então presidente, foi gestado por partidos pró-europeus e incorporou reivindicações estacionadas na sociedade ucraniana, inclusive a revolta dos ucranianos contra o sistema político vigente no país, caracterizado por centralismo, corrupção e monopólio antidemocrático .

Mesmo apresentando um leque amplo de reivindicações, faz-se possível olhar o momento ucraniano pelas lentes da “soberania múltipla” , conceito cunhado por Charles Tilly, já que é possível mapear movimentos contrários entre si, com delimitações territoriais desenhadas e com autonomia própria, instalando soberanias individuais e polarizando a Ucrânia. Assim, a fragmentação do estado ucraniano encaminha a saída de Victor Yanukovych da presidência, demostrando uma estrutura governamental frágil e evidenciando um vácuo de poder na Ucrânia. Esse momento de instabilidade política abre espaço e consequentemente fornece combustível para os movimentos das ruas e efervescentes por todo o pais.

A formação da guarda nacional, por exemplo, apresenta-se como uma fator que evidencia o vácuo de poder, posto que o estado não foi capaz de deter os meios de violência e conter a crise político-social no seu país. Foi nas regioes oeste e central do país, composta por cidades como Lviv, Ternopil, Ivano-Frankivsk, que ocorreu o recrutamento da guarda nacional, constituída hoje por cerca de 40 mil voluntários e organizada por agentes da sociedade civil. A sua formação foi justificada pela necessidade da promoção da integridade do território e da proteção dos cidadãos e da Ucrânia contra criminosos. O grupo que a compõe se auto denomina de “auto-defesa”, e apresenta um discurso com fortes argumentos ultranacionalistas, que justifica e defende a corrente como manifestação de amor à pátria e à mãe terra.

Vale dizer que a onda de uma direita radical ultrapassa as fronteiras da Ucrânia, podendo ser observada em toda Europa. Tem-se, por exemplo, o candidato a presidência na Frana, Marine Le Paen, representante da Frente Nacional, que obteve 25 % dos votos na eleições de 2014, de(1). Outro caso que demostra o fortalecimento de forças de partidos de ultradireita ocorreu na Grécia, com a Aurora Dourada, que teve porcentagem representativa de votos nas urnas também em 2014 (10%), (2). O crescimento desses ideais no continente, se dá como resistência a uma onda imigratória de países que passam por crise econômica nas últimas duas décadas.

Diferentemente, entretanto, das razões que possivelmente levaram ao ressurgimento de tais forcas na Europa, na Ucrânia vão além de uma resposta às supostas políticas de dominação estrangeiras, como por exemplo a presença Russa. É evidente que a constância de sua atuação na criação do estado ucraniano e na construção de sua identidade, coloca a Rússia como um ator importante , ainda que não possa responsabilizá-la como responsável exclusivo pelo ressurgimento dessas ideologias conservadoras.

Para além de uma história política rodeada pela presença Russa, a atual tentativa de desassimilação por parte da Ucrânia frente ao país, coloca-se como algo extremamente amplo e complicado, uma vez que o principal aliado econômico da Ucrânia segue sendo a Rússia. Na relação econômica, temos 47% de sua produção de gases petrolíferos exportado para Rússia (3), e 17 bilhões de metros cúbicos de gás natural, aproximadamente ¼ do consumo no país é disponibilizado pela Rússia, devido ao acordo de livre passagem do mesmo produto para o escoamento para a Europa. Para além disso, ratificando a proximidade que existe entre as economias, 72% da produção industrial da Ucrânia (4) também é direcionada a Rússia, e vale perceber que o setor industrial ucraniano representa 29 % do PIB do país. (5)

Vale ainda salientar que o leste industrial, composto pela região de Donbas, Lugansk e Donetsk, detém grande potencial de gás e carvão, e possui indústrias metalúrgicas altamente desenvolvidas, produtoras de ferro e aço em quantidade necessária para abastecer o mercado. É nessa mesma região que encontramos grupos separatistas que proclamam a independência sobre Kiev, se apresentando como um ator político de forte importância devido ao grande potencial econômico que representa. Nesse contexto, uma conexão entre um forte grupo politico que detém um instrumento econômico importante e se identifica com a Rússia que se torna mais tênue o choque entre os dois países, aprofundando assim o conflito entre regiões.

Dessa forma, podemos visualizar a ação de atores domésticos e internacionais: o leste industrial que flerta com a Rússia e a presença desse estado no conflito; a capital ( Kiev ) e o centro-oeste, que detém a guarda nacional, no anseio pela construção de um estado nacional; e os radicalismos que subsidiam as ideologias dos atores do conflito.

É importante também perceber a dificuldade na formação de um estado democrático na Ucrânia, uma vez que aqueles que antes lutavam na praça Maidan e que compõem a guarda nacional, voltam-se agora contra as novas e ainda existentes manifestações democráticas na mesma praça Maidan, o que denota uma incoerência politica.

A combinação destes fatores exprime a forte dimensão dos interesses econômicos e políticos que estão em jogo bem como sua capacidade de dificultar a reconstrução de um poder soberano na Ucrânia

Referencias :

Ucrânia: o desafio na reconstrução de um estado soberano diante da fragmentação de atores e seus interesses

Maidan, a Praça da Independência, em Kiev, epicentro do movimento que surgiu no fim de novembro de 2013 na Ucrânia em reação à atitude do presidente Viktor Yanukovich de não firmar o acordo de participação do país na União Europeia. negligência por parte do governo em relação às negociações sobre o acordo de livre-comércio com Bruxelas também contribuiu para o seu desgaste. O conflito, que ão deve ser personificado na figura do até então presidente, foi gestado por partidos pró-europeus e incorporou reivindicações estacionadas na sociedade ucraniana, inclusive a revolta dos ucranianos contra o sistema político vigente no país, caracterizado por centralismo, corrupção e monopólio antidemocrático .

Mesmo apresentando um leque amplo de reivindicações, faz-se possível olhar o momento ucraniano pelas lentes da “soberania múltipla” , conceito cunhado por Charles Tilly, já que é possível mapear movimentos contrários entre si, com delimitações territoriais desenhadas e com autonomia própria, instalando soberanias individuais e polarizando a Ucrânia. Assim, a fragmentação do estado ucraniano encaminha a saída de Victor Yanukovych da presidência, demostrando uma estrutura governamental frágil e evidenciando um vácuo de poder na Ucrânia. Esse momento de instabilidade política abre espaço e consequentemente fornece combustível para os movimentos das ruas e efervescentes por todo o pais.

A formação da guarda nacional, por exemplo, apresenta-se como uma fator que evidencia o vácuo de poder, posto que o estado não foi capaz de deter os meios de violência e conter a crise político-social no seu país. Foi nas regioes oeste e central do país, composta por cidades como Lviv, Ternopil, Ivano-Frankivsk, que ocorreu o recrutamento da guarda nacional, constituída hoje por cerca de 40 mil voluntários e organizada por agentes da sociedade civil. A sua formação foi justificada pela necessidade da promoção da integridade do território e da proteção dos cidadãos e da Ucrânia contra criminosos. O grupo que a compõe se auto denomina de “auto-defesa”, e apresenta um discurso com fortes argumentos ultranacionalistas, que justifica e defende a corrente como manifestação de amor à pátria e à mãe terra.

Vale dizer que a onda de uma direita radical ultrapassa as fronteiras da Ucrânia, podendo ser observada em toda Europa. Tem-se, por exemplo, o candidato a presidência na Frana, Marine Le Paen, representante da Frente Nacional, que obteve 25 % dos votos na eleições de 2014, de(1). Outro caso que demostra o fortalecimento de forças de partidos de ultradireita ocorreu na Grécia, com a Aurora Dourada, que teve porcentagem representativa de votos nas urnas também em 2014 (10%), (2). O crescimento desses ideais no continente, se dá como resistência a uma onda imigratória de países que passam por crise econômica nas últimas duas décadas.

Diferentemente, entretanto, das razões que possivelmente levaram ao ressurgimento de tais forcas na Europa, na Ucrânia vão além de uma resposta às supostas políticas de dominação estrangeiras, como por exemplo a presença Russa. É evidente que a constância de sua atuação na criação do estado ucraniano e na construção de sua identidade, coloca a Rússia como um ator importante , ainda que não possa responsabilizá-la como responsável exclusivo pelo ressurgimento dessas ideologias conservadoras.

Para além de uma história política rodeada pela presença Russa, a atual tentativa de desassimilação por parte da Ucrânia frente ao país, coloca-se como algo extremamente amplo e complicado, uma vez que o principal aliado econômico da Ucrânia segue sendo a Rússia. Na relação econômica, temos 47% de sua produção de gases petrolíferos exportado para Rússia (3), e 17 bilhões de metros cúbicos de gás natural, aproximadamente ¼ do consumo no país é disponibilizado pela Rússia, devido ao acordo de livre passagem do mesmo produto para o escoamento para a Europa. Para além disso, ratificando a proximidade que existe entre as economias, 72% da produção industrial da Ucrânia (4) também é direcionada a Rússia, e vale perceber que o setor industrial ucraniano representa 29 % do PIB do país. (5)

Vale ainda salientar que o leste industrial, composto pela região de Donbas, Lugansk e Donetsk, detém grande potencial de gás e carvão, e possui indústrias metalúrgicas altamente desenvolvidas, produtoras de ferro e aço em quantidade necessária para abastecer o mercado. É nessa mesma região que encontramos grupos separatistas que proclamam a independência sobre Kiev, se apresentando como um ator político de forte importância devido ao grande potencial econômico que representa. Nesse contexto, uma conexão entre um forte grupo politico que detém um instrumento econômico importante e se identifica com a Rússia que se torna mais tênue o choque entre os dois países, aprofundando assim o conflito entre regiões.

Dessa forma, podemos visualizar a ação de atores domésticos e internacionais: o leste industrial que flerta com a Rússia e a presença desse estado no conflito; a capital ( Kiev ) e o centro-oeste, que detém a guarda nacional, no anseio pela construção de um estado nacional; e os radicalismos que subsidiam as ideologias dos atores do conflito.

É importante também perceber a dificuldade na formação de um estado democrático na Ucrânia, uma vez que aqueles que antes lutavam na praça Maidan e que compõem a guarda nacional, voltam-se agora contra as novas e ainda existentes manifestações democráticas na mesma praça Maidan, o que denota uma incoerência politica.

A combinação destes fatores exprime a forte dimensão dos interesses econômicos e políticos que estão em jogo bem como sua capacidade de dificultar a reconstrução de um poder soberano na Ucrânia

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