Em uma tentativa de trazer um novo olhar sobre a questão dos refugiados a artista brasileira de multimídia e educadora Marie Ange Bordas, elaborou o projeto “Deslocamentos” que marcou a abertura da XII Semana de Relações Internacionais da PUC-SP. O projeto elaborado durante dez anos, nos quais Marie viveu em continentes distintos, retrata a vida de pessoas deslocadas vivendo em diferentes situações. Logo, após a abertura houve um debate com a artista que contou um pouco mais do projeto e suas inspirações. A ligação da artista com o tema começou com um incômodo no fato de como a questão da imigração era retratada de uma maneira privilegiada. Marie começou trabalhando com mulheres do Kosovo refugiadas em Nova Iorque; depois foi para a Índia, onde relata que pela primeira vez sofreu realmente um choque cultural e percebeu a importância de estabelecer vínculos com a população com a qual se trabalha. Destacou, também, que ao longo dos anos percebeu que culturalmente tinha mais semelhança com países como os da África do que com os do Leste Europeu, como antes acreditava. A fim de, aprofundar a questão a artista conseguiu uma bolsa para residência artística na África do Sul, primeiro lugar retratado em seu projeto “Deslocados”. No país trabalhou com refugiados originários da Etiópia, Somália, Congo, entre outros. Logo depois foi para França, onde morou em um albergue com refugiados políticos na periferia de Paris. Eram cerca 120 pessoas de mais de 80 nacionalidades, conta a artista. Em seguida, a artista seguiu para o Quênia no qual ficou por cinco meses no campo de refugiados de Kukuma, , conhecido por acolher “os meninos perdidos do Sudão”, jovens órfãos da guerra que caminharam até o local. O intuito do projeto de acordo com Marie, não é falar ou mostras as pessoas, mas sim criar espaços para que essas possam ser ouvidas. Assim, durante o projeto foram feitas várias oficinas e exposições dentro e fora dos campos. Para ela era uma maneira de se conectar com as pessoas, assim como possibilitar a elas uma nova maneira de ver o mundo. Já na conclusão da sua fala, Marie caracterizou a situação dos refugiados como uma situação de limbo jurídico e político, no qual um lugar que deveria ser transitório acaba sendo um lugar permanente por muitos anos para essas pessoas, nomeando a situação de um estado de “Transição Permanente”. Também ressaltou que por esse motivo, pode ser percebida no local a criação de uma espécie de Estado no qual pode ser visto relações de hierarquia e submissão. Ao fim ocorreram rodadas de perguntas, onde dentro dos questionamentos surgiu a questão do Brasil com refugiados. A artista respondeu que considera a situação do imigrante no Brasil melhor do que na Europa atualmente e acredita que o país deu um grande passo no governo Lula como primeiro da América Latina com status de lugar para Reassentamento para refugiados perante a ONU. Resposta esta que pode ser questionado, com base nas leis ditatoriais que ainda vigoram em relação ao assunto. A artista também trouxe em uma de suas respostas, a reflexão: “quem ajuda quem?” Pois, hoje, a África é um canteiro de obras de indústrias multinacionais, o que faz pensar sobre a questão do altruísmo com a África ser verdadeiro ou como em prol do benefício protecionista das grandes potências, ajudando suas próprias empresas. Podemos assim perceber que o assunto tem uma gama de questões a serem debatidas, sendo evidente sua importância dentro do campo das Relações Internacionais. Sem dúvidas, uma tocante exposição sobre o assunto e uma grande abertura da Semana de Relações Internacionais.
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