A programação da XII Semana de Relações Internacionais da PUC-SP, organizada pelo Centro Acadêmico de Relações Internacionais, foi montada em torno da temática “Marcos das relações internacionais: Soberania e Justiça na configuração global contemporânea”. Dentre as exposições apresentadas nesta última terça-feira (09/09), merecem destaque as discussões sobre o tema “Participação do Brasil nas Missões de Paz Contemporâneas”.
A mesa de debates foi composta por Geraldo Zahran, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e especialista em estudos sobre EUA, instituições internacionais, análise de política externa e teoria de relações internacionais. Da mesma forma, contou com a presença de Adriana Carranca, repórter especial do jornal O Estado de São Paulo e analista de questões relacionadas a conflitos, religião e direitos humanos, com destaque para a problemática da mulher nestes contextos. Os diálogos foram mediados por Flávia de Campos Mello, professora do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e atuante em temas como política externa, governança internacional, globalização e teoria de relações internacionais.
A jornalista Adriana Carranca contribuiu para os debates a partir da narrativa de suas experiências profissionais e pessoais em situações de conflito em países como Afeganistão, Paquistão, Irã, Israel, Haiti e Congo. Ao longo de sua exposição, a repórter procurou destacar o papel das tropas militares em operações de paz, demonstrando que existe um grande distanciamento entre o contingente militar e a população local. Além disso, ressaltou a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de um mandato prevendo maior uso da força nas operações de paz realizadas no Congo. Lideradas pelo general brasileiro Carlos Alberto dos Santos, as tropas foram autorizadas não somente a atuar defensivamente, mas também a promover ofensivas contra os rebeldes.
Em sua apresentação, o professor Geraldo Zahran buscou compreender a participação do Brasil em missões de paz segundo uma perspectiva histórica e de análise das posições de política externa tomadas pelo governo brasileiro ao longo do tempo. Contemporaneamente, o país enfrenta um forte dilema no que diz respeito às operações de paz: de um lado, o Brasil, como representante das relações Sul-Sul e promotor do multilateralismo, defende a reforma da ordem internacional em detrimento das potências ocidentais; por outro lado, o governo se alinha a tais países em intervenções humanitárias no Haiti e no Timor Leste. Tal incoerência pode ser explicada pelas aspirações brasileiras em integrar o Conselho de Segurança da ONU como membro permanente.
A partir dos debates realizados, pode-se compreender que a atuação do Brasil em missões de paz contemporâneas tem enfrentado certas dificuldades. O envolvimento de agentes privados a fim de financiar as intervenções humanitárias muitas vezes prejudica a retirada das tropas militares em curto prazo, prejudicando de certo modo o sucesso da missão empreendida. Igualmente, o forte distanciamento entre as forças de paz e a população local acaba criando barreiras que dificultam os processos de aproximação e pacificação da região. Todavia, a inserção do Brasil neste contexto tem se mostrado fundamental, já que fortalece a posição do país em âmbito doméstico e o projeta internacionalmente como player global.
Por: Fábia Molinari Pereira.
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