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Segunda onda de COVID-19 na Índia e o impacto na vacinação global

Por Lorena Bulhões - graduanda em Relações Internacionais pela PUC-SP e membro do Programa de Educação Tutorial (PET-RI).



A Índia enfrenta uma segunda onda avassaladora de casos de COVID-19, chegando a registrar, em meados de abril, 379.308 novos casos em um único dia e somando 1 milhão de casos em quatro dias do mesmo mês, chegando a ser responsável por 1 em cada 3 casos de coronavírus registrados no mundo (ver abaixo). Já em maio, o país atingiu o número de 4.529 óbitos em um dia, tornando- se o país a registrar o maior número de mortes em 24 horas. Observando a situação deste país que possui uma população de 1,3 bilhão de pessoas, questiona-se o seu impacto no âmbito internacional, especialmente por ser um dos principais produtores e distribuidores de vacinas e de IFA do mundo.



Fonte: The Washington Post


Nesse sentido, o país enfrenta um cenário de hospitais lotados sem capacidade de atender a demanda de pacientes, poucos leitos hospitalares disponíveis e escassez de oxigênio. Além disso, apesar da Índia ser conhecida como a “farmácia do mundo” e, antes da pandemia, administrar o maior programa de imunização do mundo, distribuindo vacinas de rotina para 55 milhões de pessoas por ano, atualmente, o país lida com uma diminuição no programa de vacinação, que foi de 3,6 milhões de doses diárias para 1,6 milhão de doses por dia, devido a falta de estoque e difícil acesso a insumos para a produção dos imunizantes (ver abaixo). O país possui em torno de 150 milhões de doses administradas e somente 40,4 milhões de pessoas, ou 2,9% de sua população, totalmente vacinadas.



Fonte: BBC


Entre janeiro e maio de 2021, a Índia comprou cerca de 350 milhões de doses das duas vacinas aprovadas, Oxford-AstraZeneca, fabricado como Covishield pelo Serum Institute of India (SII), e o Covaxin pela empresa indiana Bharat Biotech. Apesar do apoio da quebra das patentes no âmbito internacional, a posição do governo do primeiro-ministro Narendra Modi sobre produção da Covaxin no âmbito interno foi oposta ao licenciamento compulsório limitando a produção dos imunizantes a duas empresas.


A fabricação de vacinas da Índia também foi atingida pela falta de matéria-prima depois que o presidente norte-americano, Joe Biden, sancionou a Lei de Produção de Defesa dos Estados Unidos, que atinge a exportação dos insumos para a produção dos imunizantes. Em meio ao cenário da escassez de vacinas, vários centros de vacinação foram fechados por falta de doses. Segundo a CNN, em Odisha, cerca de 700 centros de vacinação foram encerrados na última semana. Em Maharashtra, o estado mais afetado pela pandemia, vários centros suspenderam a vacinação e 70 centros foram encerrados em Mumbai, e os centros em funcionamento se encontram sobrecarregados (ver abaixo).



Considerando o contexto nacional, o governo de Narendra Modi interrompeu a exportação de vacinas no fim de março para priorizar a campanha de vacinação da população indiana. Essa decisão impacta diretamente o âmbito internacional, considerando que até março o país exportou 60 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, número que era superior a quantidade de doses aplicadas internamente naquele período. Também impacta o Instituto Serum da Índia, que possui acordo com a anglo-sueca AstraZeneca para produzir a vacina da empresa farmacêutica em parceria com a universidade de Oxford, a Covishield, sendo um dos principais fabricantes de vacinas do mundo.


Além disso, o Instituto Serum é um dos principais fornecedores da Covax, iniciativa da Organização Mundial da Saúde com intuito de distribuir vacinas para países de renda média e baixa que não conseguiram fazer acordos para comprar um número suficiente de imunizantes, e deveria fornecer cerca de metade dos dois bilhões de vacinas encomendadas pelo consórcio para este ano, no entanto, não houve remessas para março, abril ou maio.

A Unicef, também membro da Covax, afirma que a situação na Índia deve levar a um déficit de 140 milhões de doses na distribuição de vacinas só até o fim de maio, além de outras prováveis 50 milhões de doses a menos em junho. A expectativa é que as exportações voltem a ser entregues para a Covax e outros países próximo do fim do ano, segundo comunicado assinado pelo diretor executivo do Instituto Serum, Adar Poonawalla, o qual afirma que o instituto continua a ampliar a produção e abastecer as demandas internas.


Dessa maneira, a segunda onda de COVID-19 na Índia, além de impactar o país de forma expressiva, também afeta a situação global em relação à pandemia. A situação pode impactar principalmente a vacinação de países de renda mais baixa devido às consequências na iniciativa do Covax e coloca em questão a distribuição desigual de vacinas e insumos, considerando que um dos maiores produtores de medicamentos e imunizantes agora sofre dificuldades para vacinar sua população.


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