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Rostos e lutas: A participação feminina nos movimentos por democratização durante a Ditadura Militar

Updated: Mar 30, 2021

Foto em destaque: Caroline Domingos / La Parola


Por Denise Tavares


As lutas

As mobilizações sociais no Brasil, durante a Ditadura Militar, fizeram parte de um contexto internacional latino de luta pela democratização do Estado. Entre o final da década de 1970 e durante a década de 1980, a América Latina vivenciou uma série de movimentos sociais instigados pelos processos de liberalização e abertura institucional, que os regimes autoritários no continente começavam a promover. Tais movimentos, reivindicavam pela democratização do Estado tanto em conteúdo de direitos políticos e mudança de regime político, quanto em termos de direitos sociais.

As reivindicações propostas pelos movimentos repousaram em uma nova compreensão e interpretação das desigualdades sociais e políticas; as privações de direitos sociais foram redefinidas como discriminações ilegítimas (GOIRAND, 2009). Assim, se fundamentavam no reconhecimento da dignidade dos grupos marginalizados, na luta por direitos sociais e da participação cidadã. Essa reinterpretação e compreensão das desigualdades, promoveu uma afirmação identitária dos grupos privados de seus direitos, sendo essa uma das principais contribuições socioculturais dos movimentos da década de 70-80 na América Latina. Nesse período, no Brasil aumenta-se os movimentos pautados nesse modelo de ilegitimidade da privação com as mobilizações pela inserção dos pobres nas áreas de saúde, educação, moradia etc., uma vez que o governo autoritário negligenciou os moradores das áreas periféricas (AVRITZE, 2012)

Um aspecto que, entretanto, acaba por ficar em segundo plano, é o fato de uma parcela relativa dessas mobilizações terem sido conduzidas por mulheres. Os movimentos por democratização do Estado, ocorreram junto com a segunda onda do movimento feminista no Brasil, cuja influência fez emergir as mulheres na cena pública brasileira por meio de seus diferentes papéis sociais – como mães que lutavam por seus filhos desaparecidos; como mulheres periféricas que lutam por melhores condições de vida; como trabalhadoras que tinham salários diferenciados etc. (GOHN, 2007). Assim, além da afirmação identitária que os movimentos promoviam na época, a influência da segunda onda feminista contribuiu para as mulheres se tornarem as principais atrizes nas reivindicações pela democratização do Estado nos termos de direitos políticos, humanos e sociais.

Pensando na necessidade de resgatar a história da Ditadura no Brasil, uma vez que atualmente existe um cenário negacionista e de amnésia social – um “melhor esquecer, que lembrar” – e levando em consideração o apagamento que a participação feminina tente a sofrer, uma vez que a história da ditadura militar, assim como a oposição a ela, é, como a maioria das histórias políticas, uma história masculina (COLLING, 2004). Exponho abaixo quatro mulheres que participaram de alguns desses movimentos de democratização do Estado, duas que se engajaram na luta por direitos políticos e humanos, sendo elas fundadoras de mobilizações contra a tortura e a favor da anistia, com uma das líderes de um movimentos de mulheres – movimentos que, apesar das mulheres serem atrizes diretas, ou participarem em grande número, o que aparece, ou tem visibilidade, são suas demandas e políticas (GOHN, 2007); e uma integrante do movimento negro.


Os rostos

Referências bibliográficas

Alia. O. (16 de Dezembro de 2019). Você Sabe Quem Foi Beatriz Nascimento? Fonte: https://noticiapreta.com.br/voce-sabe-quem-foi-beatriz-nascimento/

AVRITZER, Leonardo (2012). Sociedade civil e Estado no Brasil: da autonomia à interdependência política. Opinião Pública, Campinas, vol. 18, no 2, novembro, p. 383-398

Cecília Maria Bouças Coimbra. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 32, n. 3, p. 768, 2012.

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC). Dicionário: Verbete Temático “Tortura Nunca Mais”. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/tortura-nunca-mais>

COLLING, Ana Maria. As Mulheres e a Ditadura Militar no Brasil. História em Revista, Rio Grande do Sul, v. 10, dezembro de 2004.

Emilly. D. (04 de Abril de 2019). Conheça Ana Dias e outras 14 heroínas dos tempos de ditadura que vão virar livro. Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2019/04/04/conheca-ana-dias-e-outras-14-heroinas-dos-tempos-de-ditadura-que-vao-virar-livro

GOHN, Maria da Glória. Mulheres – atrizes dos movimentos sociais: relações político-culturais e debate teórico no processo democrático. Política e Sociedade, Florianópolis, v. 6, n. 11, p. 41-70, outubro de 2007.

GOIRAND, Camille. Movimentos sociais na América Latina: elementos para uma abordagem comparada. Estud. hist. (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 22, n. 44, p. 323-354, Dec. 2009.

Henrique. S. B. (18 de Dezembro de 2019). Há mais de 40 anos, clubes de mães da zona sul protestavam contra política econômica da ditadura. Fonte: https://www.agenciamural.org.br/ha-mais-de-40-anos-clubes-de-maes-da-zona-sul-se-manifestavam-contra-politica-economica-da-ditadura/

MEMORIAL DA DEMOCRACIA. Mulheres iniciam luta pela anistia. Disponível em: <http://memorialdademocracia.com.br/card/mulheres-abrem-luta-pela-anistia>

Therezinha Zerbini. Memórias da Ditadura. Disponível em: <http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/therezinha-zerbini/>

VARGAS, Mariluci Cardoso. O Movimento Feminino pela Anistia como partida para a redemocratização brasileira. In: IX Encontro Estadual de História: Vestígio do passado – a história e suas fontes – ANPUH-RS, 2008, Porto Alegre: UFRGS. Anais…, Porto Alegre: UFRGS, 2008.

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