A força da polícia não está na violência, está no respeito. Foi a partir dessa premissa que, na última sexta-feira, 6 de setembro, a Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, o Instituto Sou da Paz, o Fórum Brasileiro De Segurança Pública e a Conectas Direitos Humanos realizaram, no vão livre do Masp, uma aula pública para discutir a questão da polícia no Brasil. Trata-se da primeira atividade de um fórum que pretende debater o tema, nas ruas e nas redes, chamado “Que Polícia Queremos?”.
A ação policial nas manifestações de junho não apenas trouxe novamente o assunto à tona. Também foi, em grande medida, causa do protesto motivado pelo abismo que há entre a população brasileira e sua força policial. Além da difusão do reconhecimento de que não há democracia madura sem uma relação igualmente madura entre cidadãos e policiais. Assim, falar de polícia é hoje necessário e inevitável.
Oscar Vilhena Vieira, da Escola de Direito da FGV, destacou que as políticas de segurança pública estão mal distribuídas e que é fundamental que se tenha uma polícia que nos respeite, que respeite principalmente à população mais vulnerável, para assim criar-se a confiança necessária.
Para Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro De Segurança Pública, a fim de construir a polícia que queremos devemos conhecer a que temos: 700 mil policiais mal-remunerados e mal-equipados, treinados para obedecer em uma rígida hierarquia e um sistema de gestão esquizofrênica das polícias brasileiras. Em seu entendimento, são necessárias reformas estruturais, tanto legais quanto de gestão.
Carolina de Mattos Ricardo, do Instituto Sou da Paz, por sua vez, disse sobre as medidas que vão além dessas reformas. Para ela, existem três pontos essenciais: capacitação para trabalhar em ciclo completo, desmilitarização e implementação de políticas de cargo único. Foram ainda tratados assuntos como a introdução de valores dos direitos humanos na estrutura de segurança, a criação de políticas públicas preventivas e a questão das UPPs.
Segurança pública e a reforma das polícias são questões tão profundas quanto imediatas. Frutos de processos históricos e presentes. Tratar delas é tratar de diversas clivagens e de soluções quase sempre controversas, mas que merecem ganhar a arena do debate público. É preciso articular prevenção e apuração dos crimes, aproximar população e polícia, aprimorar nossa segurança pública. Mas o que é uma boa polícia e o que ela deve fazer? Seriam modelos como as UPPs algo positivo? Onde está Amarildo e tantos outros? É suficiente olhar só para a polícia ou outras políticas públicas também precisam ser reformadas? Do debate na última sexta-feira surgiram mais perguntas que respostas. Outras tantas ainda surgirão. Para chegar a respostas e práticas é necessário inserir tal discussão em nossas pautas. O Fórum é uma parte dessa inserção; a participação da sociedade, a outra.
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