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O elo entre a Revolução Russa e a Greve Geral de 1917 em São Paulo

Há 100 anos, a imprensa paulista retratava um dos maiores contextos revolucionários do Brasil.

Maria Tereza Ferreira Cavalheiro

No começo do ano de 1917, explode a Revolução de Fevereiro, a primeira vitória proletária russa com a abdicação do governo do Czar Nicolau II e que se tornou uma grande inspiração para a luta do operariado. Com o governo czarista totalmente derrotado, o Governo Provisório toma o poder e pelo seu comprometimento com a população, implementa uma série de  políticas com alto valor democrático. Apesar dessa revolução ter sido uma conquista popular, o governo é liderado por figuras burguesas, como Alexander Kerensky que mantinha um grande apoio dos trabalhadores. No entanto, Kerensky com o apoio governamental decide pela continuação da 1ª Guerra Mundial para manter a aliança com a França e a Alemanha. Os seguidores de Lênin, os bolcheviques, se revoltam contra essa medida e pedem pela queda do governo por meio de protestos os quais posteriormente seriam chamados de “Jornadas de Julho “, porém não tiveram êxito. Coincidentemente, enquanto que a cidade de Petrogrado (São Petersburgo) passava por uma onda de protestos, o mesmo ocorria na cidade de São Paulo. No mesmo mês de julho, a capital paulista testemunhou várias rebeliões do operariado urbano que se inspiravam às ideias da revolução que resultará na Greve Geral de 1917.

Nessa ebulição de movimentos sociais, a formação da opinião pública era totalmente estratégica para os jornais locais, tanto para os mais populares assim como os da grande imprensa. Além de informar, a imprensa buscava também influenciar os leitores ou em outras palavras, manipulá-los. No entanto, os veículos de comunicação vão muito além de uma ferramenta de manipulação, eles têm um papel tanto de influenciar uma agitação popular como também de organizar essa agitação.De acordo com as palavras do próprio Lênin ” A newspaper is not only a collective propagandist and collective agitator; it is also a collective organizer”, ou seja, os jornais populares, como os dos anarquistas, não eram comprometidos a dar somente notícias, mas sim motivar o público operário a se manifestar contra as injustiças que ocorriam naquele período.

O jornal A Plebe e o Estado de S. Paulo foram grandes ícones da transmissão dos dois eventos que abalaram o Brasil em 1917, a Revolução Russa com uma maior ênfase a que acontece em fevereiro, e a Greve Geral de 1917. Ao longo do ano, os dois jornais fizeram narrações desses eventos os quais se diferenciam bastante entre si, apesar de estarem narrando os mesmos acontecimentos. Enquanto que o primeiro influenciava a classe operária a participar de greves e montar ligas operárias com base em uma inspiração revolucionária russa, o segundo, por consequência da greve, foi um mediador desse conflito de classes, ao mesmo tempo que criticava a Revolução Russa. Com a repercussão dessas notícias, a presença da imprensa paulista foi essencial para culminar numa transformação progressista ao Brasil.

Brasil: O palco das greves operárias e em sintonia com os acontecimentos revolucionários na Rússia.

No século XX, o Brasil era marcado pela industrialização que modificou o cenário de várias cidades, com o crescimento de empresas, assim como o aumento da classe proletária. De acordo com censo da época, contabilizou-se a abertura de 5.940 empresas, o que era surpreendente, pois era compatível com o número de indústrias que existia no território nacional desde de 1890 até 1914. A escalada do setor industrial foi acompanhada pela quantidade de trabalhadores que ultrapassou os 200 mil que era um considerável peso para a população brasileira (BANDEIRA, Luis A. Moniz e MELLO, Clóvis, 1967). A economia passava por uma boa fase, já que as indústrias brasileiras aproveitam o contexto de guerra e se beneficiam com a venda de máquinas usadas e da demanda alta de produtos agrários.

Essa prosperidade econômica vinha de um custo que era pago pelo proletariado que tinha que sobreviver em condições sub-humanas com um salário ruim e uma jornada de trabalho extenuante que durava 12 ou mais horas. Além disso, havia  uma parcela da sociedade consideravelmente mais frágil, mulheres e crianças, que era muito mais explorada, porque os salários eram extremamente baixos se comparado ao homem comum. A insatisfação com essa situação se agravaria e culminaria na Greve Geral de 1917 que começa em São Paulo e em seguida impactaria todo o país.

Há 100 anos exatamente esse movimento grevista explodiu. Liderados pelos anarquistas, as massas trabalhadoras foram às ruas revoltadas com as condições de trabalho e a alta dos preços dos artigos de primeira necessidade. Eles reivindicavam uma série de pedidos, entre eles, o aumento salarial em média 35 % para salários inferiores a $5000 réis, a diminuição da jornada de trabalho de 12 para 8 horas e o mais breve possível, o barateamento dos gêneros alimentícios. Com estas reivindicações, o movimento começou aos poucos e depois teve uma proporção maior no mês de julho devido aos operários se solidarizarem com a situação dos seus companheiros.Assim, essa movimentação gera uma reação em cadeia que resulta na paralisação total da cidade de São Paulo em poucos dias tomada pelo operariado.

Neste ano de 2017,  acontece o centenário tanto da Greve Geral como também o da Revolução Russa, não só por uma coincidência, pois a revolução foi uma inspiração para boa parte das revoltas operárias no Brasil. Além disso, no início da revolução, o objetivo não era propagar uma revolução socialista pelo mundo, mas ao invés disso, causar uma comoção revolucionária como aconteceu no caso brasileiro. Para o contexto do ano 1917, a Revolução que terá mais destaque é a Revolução de Fevereiro, por ter tido uma repercussão maior neste ano. No entanto, as informações eram escassas e às vezes eram um pouco fora da realidade, ainda assim ela representou um grande momento para o trabalhador urbano da época, pois incentivava a lutar contra a dominação burguesa. A Plebe

Em São Paulo, o jornal anarquista e anticlerical,comandado pelo jornalista, Edgard Leuenroth, é lançado em junho de 1917, ao mesmo tempo que ocorria várias agitações populares na cidade.Era semanalmente distribuído aos sábados para o público, por isso não tinham como noticiar diariamente greves ou manifestações, porém reuniam todas as informações e faziam uma análise profunda sobre os acontecimentos. As notícias não eram apenas sobre o Brasil, havia seções que abordavam especificamente sobre os  movimentos sociais no internacional, na maioria das vezes a América Latina, e um grande destaque para a Rússia.

Na primeira publicação, Edgard Leuenroth apresenta o jornal para o leitor. Ele informa que se trata de uma substituição de um jornal anarquista anterior, A Lanterna, e o seu papel é se dedicar a missão de orientar o povo  manipulado pelos grandes jornais da época e criticar o sistema que era comandado não somente pelo regime burguês, mas também pela Igreja. Por final, o momento para a publicação de A Plebe era essencial diante dos acontecimentos formidáveis “desde das luzitanas plagas até às esteppes geladas da longínqua Rússia” ( A Plebe, 9 de julho de 1917, p.1).Na página seguinte, é explicado com mais clareza que esses tais acontecimentos são as rebeliões operárias em toda a  Europa. O que se conclui disso é que a Rússia se tornou entre os países europeus, o verdadeiro modelo para a confusão, por ter obtido um avanço democrático com a queda do governo autoritário do Czar, por meio de uma revolução liderada pelo povo e por isso a ordem para o operariado em geral deveria ser a desordem.

A menção da Rússia começou sendo reportada com sua relação com a Grande Guerra e declarava-se que a revolução era a melhor consequência dessa guerra a qual era criada pelos burgueses para seu próprio benefício, porém quem estava se sacrificando era o povo. Em um certo momento depois, a Rússia anteriormente um tópico constante, é colocada em segundo plano quando a idéia de uma Greve Geral começa a se tornar possível, apesar disso, ainda assim ocorre sua citação, mas com menor intensidade.

As agitações da Greve Geral tiveram um amplo destaque na coluna Mundo Operário, onde noticiava-se as greves e as manifestações que precederam a greve assim como algumas que continuaram, que tinham o apoio total do jornal, já que não se economizava elogios aos operários que reivindicavam seus direitos. Em contrapartida, havia a crítica para os policiais que difamavam a imagem dos manifestantes e também os reprimiam violentamente.

A medida que as greves cresciam, as publicações se resumiam a dar informes sobre a situação das greves de diversas categorias, desde das vitórias ou as derrotas, assim como, os comícios e as notas sobre a criação de ligas operárias, sendo que a mais importante foi o Comitê de Defesa Proletária, devido a sua importância nas negociações após a Greve Geral de 1917. Para incentivar cada vez mais, uma matéria publicada bem perto de acontecer a Greve Geral foi intitulada “O porquê das greves” para haver uma explicação do porquê da revolta e uns dos motivos para se rebelar era o aumento dos preços dos artigos de primeira necessidade que foi causada pela alta demanda da exportação desses produtos pelos países em guerra que fez encarecer seu comércio aqui. A preocupação do governo era manter essa relação comercial e por consequência, deixava assim os prejuízos afetarem a população. Por esse e vários argumentos, o jornal afirma que enquanto que os burgueses e o governo enriqueciam, os operários não tinham como se manter com as necessidades mais básicas, logo era imprescindível a ocorrência de uma agitação popular.

Foi em uma segunda-feira, no dia 9 de julho que começaria um dos maiores levantes operários em São Paulo. Neste dia ocorre um confronto da polícia contra os grevistas que seria o estopim para a explosão da Greve Geral nos dias 12 e 16 de julho. Após esse confronto em frente à fábrica da Antártica, os grevistas buscaram outras fábricas onde pudessem haver mais adesões, um deles seria no Brás e logo depois criou-se uma multidão. Isso resultou na solicitação da presença do Delegado Geral Thyrso Martins que acompanhado com 30 soldados armados com fuzis atacou os operários e na confusão acaba deixando três operários feridos, entre eles, o sapateiro espanhol José Martinez que morreria no dia seguinte (STRONGREN, Fernando, 2015).

Em comoção a morte de Martinez, entre duas e três mil pessoas se juntaram após o cortejo para fazer um comício na Praça da Sé e fazer reivindicações, como a libertação de operários presos e no fim, acontece um novo confronto entre eles e os policiais. Nos dias seguintes, São Paulo foi tomada pelo operariado, como a publicação da A Plebe explicou após o término da Greve Geral: “A falange obreira começou a abandonar a insana labuta e a sahir para a rua na terça-feira, por ocasião do enterro do desventurado Martinez. Tres dias depois ninguem trabalhava, ficando a cidade quase inteiramente à mercê do operariado” (A Plebe, São Paulo, 21 de julho de 1917, p. 1).

A publicação do dia 21 de julho de 1917 após as negociações da Greve Geral com a celebração da vitória operária com a frase: “O proletariado em revolta affirma o seu direito á vida”


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A foto da multidão que havia acompanhado o enterro de Martinez.


O desfecho acaba com uma negociação na Comissão de Imprensa, criada pelos jornais que publicavam na capital, na qual não teve a presença do operariado, já que ele se recusava a ter uma aproximação com as autoridades que estavam com as “mãos cheias de sangue”. O Comitê de Defesa Proletária que estava representando todas as ligas e corporações operárias se comunicou com os jornalistas para a imposição de certas demandas que foram detalhadas na seção da A Plebe chamada “O que reclamam os operários” e com isso, foi fechado um acordo com os patrões e governantes, porém era necessário contar que o proletariado poderia sofrer uma traição.Havia a denúncia sobre uma trama policial após a Greve Geral para que os anarquistas responsáveis pelo movimento grevista fossem presos, logo em seguida essa trama seria confirmada com a prisão de Edgard Leuenroth que participou efetivamente das greves.

O jornal anarquista foi muito além de uma cobertura do movimento grevista, a proposta era a conscientização da classe operária e demonstrar a necessidade para uma organização de toda a classe para que a luta pudesse se fortalecer e atingir uma transformação social na sociedade. Sua circulação entre o operariado era uma forma de criar aos poucos uma cultura de resistência que culminaria em uma revolta, assim que a situação se tornasse deplorável. No caso da Greve Geral, quando os artigos de primeira necessidade ficaram custosos, os operários foram às ruas revoltados com a situação e com uma consciência política formada pela ideologia anarquista.

O fator da Revolução Russa nunca ficou distante da cobertura de greves, já que umas das primeiras publicações sobre as greves envolve a exigência para a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas que já havia sido conseguida pelos russos, por isso necessariamente deveria ser obtida pelos operários brasileiros. “ A grandiosa epopeia europeia” como era nomeada nas matérias do jornal, foi uma razão a mais para que o operariado persistisse na rebelião contra as autoridades, para isso a publicação sobre ela era clara como títulos das colunas como “Imitemos a Rússia”.

Seu uso era óbvio para o movimento, porém as informações sobre o próprio acontecimento internacional era escasso e difícil para obter conclusões completas, por isso, o jornal expõe essa dificuldade para os leitores, na edição de número 7, publicada em 28 de julho de 1917, com o título da coluna “Algo sobre a Revolução Russa”, revela-se sobre como lidam para noticiar : “ O que podemos fazer é colher aqui e alli, uma ou outra manifestação, pessoal ou collectiva, naturalmente favorável – mais ou menos favorável – à orientação que desejaríamos ver seguida pelo movimento que se desencadeou”. Na continuação dessa coluna, o jornal cita acontecimentos de março, logo após a Revolução de Fevereiro, sobre como surgiu a revolução e como era o governo pós- revolucionário. Além disso, a Alemanha é anunciada como inimiga, pois deveria seguir o exemplo russo e se unir a Revolução Russa já que era a única solução para essa guerra acabar, o que estranhava é que a socialdemocracia alemã estava longe de querer se envolver, uma clara traição ao movimento proletário.

Essas informações trazidas pela A Plebe eram de jornais franceses ou ingleses que aparentavam ter uma visão mais liberal e de concordância as ideologias do jornal. Dentre essas informações, houve a citação do “Conselho dos Delegados de Operários e Soldados” ou conhecidos como os Sovietes como uma força política que lutava para que a Rússia saísse da guerra, o nome de Lênin, porém com a tradução tornou-se Lenine, como o caluniado militante do partido socialista que lutava por 25 anos pela causa operária russa e por final, as críticas sobre Kerensky que parecia compactuar com os Aliados. Essas publicações tinham o objetivo de explicar o que era a Revolução, apesar das tentativas e com a publicação de notícias sobre a Rússia com um atraso de no mínimo de um mês, a análise não era completa e não conseguia explicar tudo que acontecia, como por exemplo, não se comenta sobre as duas alas revolucionárias dentro da Revolução, mencheviques e os bolcheviques. A explicação era fraca e não pode ser concluída no final do ano de 1917 devido a perseguição aos jornais anarquistas, mas principalmente sobre os ativistas da Greve Geral de 1917, por isso essas análises não puderam ser concluídas com a Revolução de Outubro, apesar disso nos anos posteriores a discussão se tornou mais forte e mais fiel à realidade. Como o foco é o ano de 1917, o que importava naquele momento era a ação revolucionária ter sido liderada pelo povo e ter alcançado não somente uma vitória para o operariado, mas também para a ideologia socialista e trazia a esperança de que as outras sociedades poderiam ter o mesmo destino se seguissem o modelo russo.

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Publicação de 16 de junho de 1917 da A Plebe com destaque para o título “ A revolução russa”  no topo da página.


O Estado de S. Paulo

O jornal Estado de S. Paulo percorreu um caminho diferente para noticiar sobre a Revolução Russa, de uma forma que parecia mais desinformar o leitor do que informar, as notícias da imprensa refletiam como sempre as posições de classe, o público o qual o jornal tinha a vontade de agradar era para uma classe mais abastada, por isso, o certo seria a manipulação da informação sobre o acontecimento revolucionário, através da aparente objetividade, escondia-se o objetivo de uma propaganda política (BANDEIRA, Luis A. Moniz e MELLO, Clóvis, 1967).

Com um olhar mais conservador comparado aos jornais anarquistas da época, isso ecoava na escolha das fontes que o jornal se informava sobre a revolução, elas foram a Havas, Reuters e Associated Press (AP) que noticiavam diariamente sobre a situação internacional em geral e se destacaram por haver notas diárias sobre a Revolução. A visão delas era advinda do mercado financeiro de Nova York, Londres e Paris e devido a isso, mais espalhavam mentiras do que verdades.

A primeira notícia sobre a Revolução Russa surpreenderia pelo conteúdo nos dias de hoje, por causa de algumas das conclusões que demonstrava a desinformação que as agências internacionais afirmavam sobre o que acontecia na Revolução de Fevereiro. Primeiramente, havia a declaração da queda do Czar Nicolau que se abdicava e a implementação de um governo provisório com uma série de princípios políticos como: a anistia geral para os crimes políticos e religiosos, liberdade de expressão, direito à greve, abolição de privilégios sociais e religiosos e entre outros. Logo depois de se noticiar sobre o status político da Rússia, ocorreram as análises do que teria motivado a revolução, o que se concluía era que o motivo decorreu de um sentimento anti-alemão, como uma fonte de Londres enfatizava, “ A revolução russa foi pura e simplesmente anti-alleman ” (Estado de S. Paulo 18 de março de 1917, p.2). A interpretação para tal ideia era devido à clara posição do apoio do jornal aos Aliados na Grande Guerra e o intuito era a revolução ser retratada como uma vitória contra a Alemanha. Não era uma tendência somente para a imprensa, o Ministro Russo no Brasil declarou uma incongruência semelhante, pois justifica o ato revolucionário, que era planejado desde da guerra contra o Japão que seria o histórico da Revolução Russa de 1905, pelo povo russo começar a compreender como a Alemanha era exploradora sobre o país.

O projeto socialista ainda não havia sido citado e nem aparentava que estava envolvido dentro da revolução, por isso, o Governo Provisório era louvado como exemplo de governo republicano o qual foi reconhecido pela Inglaterra, França e Estados Unidos como uma declaração da continuidade da aliança assim como da sua participação na guerra contra os impérios centrais. Conforme as notícias diárias chegavam, eram para informar que a Rússia estava avançando com suas tropas contra a Alemanha ou como parecia prometer, já que seria uma medida antipopular para se adotar, porém havia a pressão dos Aliados sobre o governo russo.

Esse cenário parecia ser o mais favorável para os Aliados, porém o nome de Lênin surge devido ao seu desembarque na Estação Finlândia em Petrogrado. Ele faz o seu famoso discurso aos proletários que termina com a frase “Viva a revolução socialista”, em seguida ocorre uma mudança perceptível nos comentários sobre a Rússia, particularmente para denunciar os “inimigos” russos que eram os socialistas ou sendo citados como agentes alemães. O discurso de Lênin foi noticiado com um trecho: “Os jornais criticam severamente o discurso do socialista democrata que acaba de chegar do exílio aconselhando ao governo declarar paz à Allemanha” (Estado de S. Paulo, 24 de maio de 1917, p.1), ou seja, uma demonstração de desaprovação e sem a menção de Lênin ter um plano para que a revolução se desenvolvesse para um governo socialista, o que era uma estratégia para a diminuição da importância dos grupos revolucionários e demonstrar ele como um traidor para a Rússia.

Quem era Lênin? Sua identidade foi descoberta pela Agência Reuters, Lênin era “ um agente do estado maior alemão” e sua missão era de comprometer o governo provisório no apoio popular que ele teria, o que era incrível porque no mês anterior o jornal havia publicado que o seu desaparecimento ou provável morte era certa. Além disso, Lênin estava junto com o “Conselho dos Operários e Soldados ”, o conhecido Soviete, que estava planejando conjuntamente aos socialistas alemães conseguir a paz separada. Outros meios de comunicação, normalmente artigos de jornalistas anarquistas, tentavam esclarecer quais eram as reais intenções de Lênin e dos seus seguidores, porém eram poucos que tinham as informações, pois não teria como haver uma concreta conclusão do que estava ocorrendo na Rússia.

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Publicação de 18 de março de 1917 do O Estado de S.Paulo com destaque a Revolução Russa, especificamente, a Revolução de Fevereiro.


A confusão das informações da Revolução Russa foi usada com o intuito de realmente confundir os leitores sobre o que realmente acontecia, por isso a transmissão do jornal não focava em informar, mas justamente em manipular como a opinião pública observaria uma revolução que confrontava os fundamentos mais conservadores que o jornal apoiava. A repercussão dessa revolução não foi acompanhada no sentido de como ela impactava aqui no Brasil, mas não era surpresa que ela era inspiração para as greves operárias que estavam acontecendo.

No meio do ano, parecia que realmente havia uma conexão entre a Rússia e o Brasil, enquanto que por um lado as notícias internacionais discutiam como Lênin e seus apoiadores criavam um caos na rua e estavam causando distúrbios para o Governo Provisório, por outro lado, São Paulo era cenário de um dos maiores movimentos paredistas que já se viu. Noticiava-se os esforços da polícia em conter os “ desordeiros”, mas também sobre alguns abusos da polícia sem a necessidade de usar força contra os grevistas, ou seja, no caso nacional, o jornal não foi totalmente parcial sobre essa questão e até mesmo tomou parte para os que partcipavam da  greve.

As agitações operárias como eram anunciadas tiveram uma notoriedade maior com o enterro do operário Martinez que foi noticiado apenas como consequência do conflito travado com a polícia e os grevistas e aparentemente não era necessária uma imposição da responsabilidade dos policiais por esse ato. Ficava claro assim o seu apoio ao governo sobre a repressão nesses pequenos detalhes, como também na maioria das vezes se colocava em destaque quais foram as ações para impedir as tais desordens, como após o cortejo do enterro, onde grevistas praticaram assaltos, o que era uma justificativa para a força prevalecer, como era a observação a ser dada. Com este perfil, dificilmente poderia se imaginar uma inclinação para ajudar os  grevistas, porém isto aconteceu.

Em 14 de julho de 1917, o Estado de S.Paulo faz uma nota sobre a greve na primeira página, anunciando a Comissão da Imprensa que era composta por vários representantes da imprensa citados na nota que por causa da situação caótica entre os grevistas e os industriais, cederiam uma simpatia a causa do operário pelo desejo do retorno da ordem na cidade. A grande imprensa criou um meio para solucionar o conflito que havia, por isso é interessante ressaltar a importância desses canais de comunicação para a sociedade em geral, pois nesse caso, foi por meio dela que foi garantida uma negociação entre as partes para finalização da greve.

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Publicação do 14 de julho do Estado de S.Paulo  com destaque a nota intitulada “ A Greve” sobre a criação de uma Comissão de Imprensa para solucionar a Greve Geral de 1917


A participação do jornal na Comissão da Imprensa, assim como sendo precursor desse ato, seria discutida posteriormente na seção das Notícias Diversas sobre as Agitações Operárias, com a explicação do porquê deveria se apoiar essa causa e de certa forma uma desculpa aos leitores que o consideravam mais conservador:

“ Somos, está claro, essencialmente conservadores, zelando, como nos cumpre, pelos interesses fundamentais da sociedade em que vivemos. Entendemos, porém, este modo de entender é antigo, que ser conservador não é fechar os olhos ao movimento progressivo do espírito humano e erguer um dique, por sistema, a toda a reforma que se anuncia. Isto não é ser conservador, mas ser cégo e reaccionario. ” (Noticias Diversas, Estado de S.Paulo, 22 de julho de 1917 )

Na continuação, discutia-se em como o operariado teria que ceder após terem já conseguido o que queriam no acordo com as autoridades e por isso não haveria a necessidade de mais demandas por eles. Além disso, eles não deveriam ter escolhido de movimentos subversivos ou caóticos, mas optado por uma greve mais pacífica para obter o mesmo objetivo, pois o poder público teria o dever de reprimir essas manifestações para manter a ordem na cidade. Por fim, a opinião do jornal foi sempre a de julgar como foi as greves, mas aparentemente cooptou em parte com os operários, porém era um apoio bem contraditório.

A posição do Estado de S.Paulo para a Greve Geral de 1917 não poderia ser de pleno apoio aos operários, apesar disso, as notícias sobre o movimento grevista tiveram o intuito de ajudar a  montar uma negociação. Isso poderia ser uma estratégia dada a gravidade da greve e mostrar que o jornal não era um inimigo por isso era necessário a construção da Comissão de Imprensa que ajudava o Comitê de Defesa Proletária em entrar em contato com as autoridades. Qualquer que seja a estratégia adotada naquele período, esse canal de comunicação atuou como um mediador nas negociações da Greve Geral e acabou apoiando uma reforma necessária ao Brasil.

Referências Bibliográficas

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A Plebe, São Paulo, 16 de junho de 1917, ano I, n. 2

A Plebe, São Paulo, 23 de junho de 1917, ano I, n.3

A Plebe, São Paulo, 30 de junho de 1917, ano I, n.4

A Plebe, São Paulo, 9 de julho de 1917, ano I, n.5

A Plebe, São Paulo, 21 de julho de 1917, ano n.6

A Plebe, São Paulo, 28 de julho de 1917, ano n.7

A Plebe, São Paulo, 18 de agosto de 1917, ano n.10

A Plebe, São Paulo, 25 de agosto de 1917, ano n.11

O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18- 28 de fevereiro de 1917

O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10, 24, 25 e 28 de maio de 1917

O Estado de S. Paulo, São Paulo,  12, 14, 17, 22, 20 de julho de 1917

O Estado de S. Paulo, São Paulo, 2 – 18 de novembro de 1917

BANDEIRA, Luis A. Moniz e MELLO, Clóvis. O ano vermelho: a revolução russa e seus reflexos no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.

MORAES, João Quartim de; REIS FILHO, Daniel Aarão (orgs.). História do marxismo no Brasil: o impacto das revoluções. 2 ed. Campinas: Edunicamp, 1995 (v.2).

MOREIRA, Ana Paula; MARTHA, Giuliana; CLEARY, Isabel; BONFIM, Jessica; MAGDA, Mayara e CARVALHO, Priscila.Revolução Russa sob o olhar da imprensa. Disponível em: http://jornalehistoria.blogspot.com.br/p/revolucao-russa-1917.html. Acesso em 11 de julho de 2017.

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