Por Camila Galvão e Mariana Castilho - Graduandas em Relações Internacionais pela PUC-SP e membros do PET-RI
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/castillo-se-declara-vencedor-das-eleicoes-no-peru-mas-apuracao-continua-apertada-25052935>
O começo de junho foi marcado pelo segundo turno das eleições para presidente no Peru com os candidatos Keiko Fujimori e Pedro Castillo, representando a direita e a esquerda, respectivamente. Como visto outrora, o primeiro turno apresentou um cenário fragmentado com um empate técnico entre os seis candidatos. O segundo turno, por outro lado, destacou uma polarização no país com uma eleição acirrada entre Fujimori (49,52%) e Castillo (50,47%), levando-o à vitória. Mesmo os candidatos representando dois lados opostos, ambos se diferenciam principalmente nas propostas econômicas e na mudança da Constituição, e possuem uma postura conservadora em pautas progressistas, como os direitos LGBTQIA + e das mulheres.
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Disponível em: <https://www.resultadossep.eleccionesgenerales2021.pe/SEP2021/EleccionesPresidenciales/RePres/T>.
O país está marcado por um cenário de corrupção e de desconfiança no sistema político, uma vez que, nos últimos 5 anos, houveram 4 presidentes em apenas um mandato. Além disso, a pandemia da COVID-19 agravou a situação do país e, em 2020, houve a pior retração econômica na América Latina, com uma redução de 11% do Produto Interno Bruto, levando 10% da população à pobreza, milhões ao desempregado e o retorno de muitas famílias para a zona rural.
A direitista Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori, teve grande apoio da capital Lima, das regiões do norte do país e votos no exterior. No mais, o apoio de empresas era um ponto forte da candidata para a promoção do investimento e do sistema de livre mercado, no qual Fujimori sustentava e propunha uma plano de "Resgate 2021", visando o "desenvolvimento de uma verdadeira economia social de mercado". Fujimori afirmou que o plano promoverá "trabalho formal, desenvolvimento de empresas, parcerias público-privadas e investimento sustentável e socialmente responsável".
Já o candidato de oposição pelo partido Peru Livre, Pedro Castillo é professor, economista e líder sindical, e se considera um “homem de esquerda”. Seu plano econômico aparece diversas vezes sendo comparado a uma proposta econômica venezuelana, o que foi por repetidamente negado tanto por ele quanto por sua equipe como Pedro Francke, porta-voz econômico do candidato à Presidência: “Como tem dito o professor Pedro Castillo, não temos nada a ver com a proposta da Venezuela. Não faremos expropriações, não faremos estatizações, não faremos controles de preços generalizados, não faremos um controle de câmbio que faça com que não se possa comprar e vender dólares e tirar os dólares do país”. Além disso, o candidato assegura a autonomia do Banco Central de Reserva e uma política de sustentabilidade fiscal de médio prazo.
Outro forte ponto de divergência entre os concorrente são os planos para a Constituição atual, Castillo pretende adotar uma nova Constituição, e assim o programa do Peru Livre prevê o abandono do neoliberalismo e a construção de uma “Economia Popular com Mercados”, com um forte papel do Estado, além da estatização de reservas. Fujimori, por outro lado, acredita que a Constituição atual, promulgada pelo seu pai em 1990, trouxe ao povo peruano bem-estar e assim deveria permanecer em vigor.
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Disponível em: <https://brasil.elpais.com/internacional/2021-06-06/peru-vai-as-urnas-eleger-um-novo-presidente-sob-a-sensacao-de-urgencia-historica.html>.
Contudo, ambos os candidatos apresentam uma agenda conservadora em matéria de direitos humanos, sendo contra o matrimônio igualitário, à educação com perspectiva de gênero, à legalização do aborto, os direitos aos homossexuais e a eutanásia, por exemplo. Os dois estão próximos de grupos religiosos "que buscam um status quo em relação aos valores". Dessa forma, Castillo é bastante criticado por movimentos sociais progressistas por essa postura conservadora.
Os especialistas afirmam que, com as acusações infundadas de fraudes feitas por Fujimori no dia da apuração, haverá um período de instabilidade política que desencadeará uma agitação popular. No mais, o mandato eleitoral de Castillo será muito fraco, já que o partido não alcançou maioria legislativa no Congresso, dificultando a governabilidade.
As próximas produções do ORI serão uma série sobre as eleições no Peru, abordando várias problemáticas que o país enfrenta e enfrentará com o resultado das eleições, sendo o texto seguinte sobre o recorte do conservadorismo na campanha de
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